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da malária os mecanismos de interação entre parasita e

mosquito captaram o interesse dos investigadores como

potencial ferramenta na luta contra a malária.

Dentro do mosquito os plasmódios têm de ultrapassar

muitas barreiras físicas, tais como a matriz peritrófica,

o epitélio do intestino médio, o hemocélio e as glându-

las salivares, a fim de completar o seu ciclo de vida, no

entanto, a base molecular que permite o estabelecimento

destas interações não é totalmente conhecida, apesar

de muitos trabalhos realizados nesta área. O IHMT tem

contribuído para o conhecimento desses mecanismos e

interações, esperando contribuir para o desenvolvimento

de ferramentas inovadoras para controlar a transmissão

da doença.

As formas parasitárias no vetor são extracelulares e por-

tanto estão expostas aos fatores imunes do vertebrado ab-

sorvidas em conjunto com a refeição sanguínea infetada

ou refeições subsequentes. Esta ação do sistema imune

do hospedeiro vertebrado tem sido explorada na busca

de candidatos para vacinas de bloqueio de transmissão.

Moléculas candidatas como Pfs48 / 45 e P25­P28, foram

identificadas e pensa-se estarem relacionadas com a for-

mação de nanotúbulos que facilitam o contacto intercelu-

lar durante a fertilização. Estudos sobre a resposta imune

humana direcionada para os mosquitos e o seu efeito so-

bre a fisiologia do parasita e mortalidade têm sido desen-

volvidos no IHMT, mostrando que os anticorpos produ-

zidos contra o intestino médio do mosquito reduzem a

longevidade e fecundidade [103].

Vários alvos foram estudados a fim de quebrar a cadeia de

transmissão, particularmente no passo crítico da invasão

do epitélio pelo oocineto. Esta é uma área cada vez com

maior interesse científico que tem vindo a ser explorada

no IHMT, nomeadamente em relação à associação do cito-

cromo P450 e da tubulina A e B com a reduzida penetração

do epitélio de

A. gambiae

pelos oocinetos de

P. berghei

[104].

Além disso, foi demonstrado pela primeira vez que a in-

jeção de oligonucleótidos (ODN) contendo motivos CpG

tornava os mosquitos mais resistentes ao

Plasmodium

, tendo

sido isto associado com a atividade de enzimas transgluta-

minase [105]. Estes resultados abrem caminhos promisso-

res na busca de novos alvos para o controlo da transmissão

da malária. As microvilosidades do epitélio também têm

sido exploradas como um alvo para a interrupção da trans-

missão. A imunização com extratos de microvilosidades

resultou numa maior mortalidade dos mosquitos e dimi-

nuição da infeção por plasmódio [106].

Os mosquitos

Anopheles

são capazes de montar uma res-

posta imune eficaz contra a infeção pelo

Plasmodium

, a

qual é responsável por grandes perdas de parasitas du-

rante o desenvolvimento esporogónico no mosquito. Os

mosquitos parecem ser mais bem­sucedidos a controlar a

infeção pelo

Plasmodium

do que os humanos. Em áreas hi-

perendémicas para malária onde a prevalência da malária

pode atingir até 91%, as taxas de infeção do mosquito são

de uma ordem de grandeza menor. No entanto, a imuni-

dade natural não é suficiente para suprimir totalmente

a infeção do mosquito. A ideia de modular a infeção no

mosquito como medida de controlo tem vindo a ser de-

senvolvida no IHMT usando fatores externos como a CQ

(Abrantes et al, 2005 108; Abrantes et al, 2008 108) e

ODN com CpG sintéticos para induzir respostas proteto-

ras em

Anopheles

contra

Plasmodium

[105].

Com as mudanças climáticas e aumento dos movimen-

tos populacionais, o risco de reintrodução da malária nos

países que anteriormente tinham malária torna-se uma

ideia mais plausível, donde a investigação sobre a possí-

vel suscetibilidade do mosquito

Anopheles atroparvus

, vetor

da malária em Portugal, a estirpes importadas de

P. falci-

parum

ser muito relevante. A tentativa de infetar

A. atro-

parvus

com

P. falciparum

de origem africana não foi bem

sucedida, o que sugere que as espécies locais de

Anophe-

les

são refratárias aquela espécie de

Plasmodium

[109]. No

entanto, mais recentemente, experiências realizadas sob

condições específicas de temperatura e refeição sanguínea

revelaram que existe de facto suscetibilidade de

A. atro-

parvus

para

P. falciparum

estirpe NF54, com prevalência de

infeção de até 13,5%.

A libertação dos esporozoítos dos oócitos para a hemolin-

fa leva a uma reorganização do epitélio do mosquito com

alteração da expressão de genes associados com citoes-

queleto como a tubulina [104], e produção de NO, desen-

cadeando uma resposta que envolve a ativação de vários

genes de resposta ao stress oxidativo [110]. Neste contex-

to, os citocromos P450 estão profundamente envolvidos

na resposta à infeção do mosquito pelo

Plasmodium

[104],

desempenhando um papel importante em diferentes fases

de desenvolvimento do parasita e envolvendo diferentes

tecidos do mosquito.

O ensino em saúde tropical foi a missão original do IHMT,

talvez por força das circunstâncias sociopolíticas (mas

muito claramente pela dedicação e entusiasmo dos que

nele trabalhavam), o combate à malária no continente e

nas ex-colónias rapidamente se tornou uma componente

major na sua atividade institucional. Pensamos ter conse-

guido evidenciar aqui o impacto mensurável que o IHMT

teve na investigação fundamental em malária nestes últi-

mos 50 anos, nomeadamente nas áreas interação parasita­

hospedeiro, interação parasita­vector e na resistência aos

antimaláricos.

Artigo Original