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A n a i s d o I HM T

76T, responsável pela resistência à CQ encontrava­se fixado

na população parasitária com uma taxa de 96,9% e o marca-

dor adicional

pfmdr1

mutação 86Y estava presente em 68%

dos casos [55].Até cerca de 2004, a CQ e SP permaneceram

respetivamente a 1ª e 2ª linhas de tratamento para a malá-

ria não complicada em STP. Os altos níveis de resistência

a estes antimaláricos, tanto

in vivo

como

in vitro

bem como

as elevadas taxas de prevalência dos correspondentes mar-

cadores moleculares

pfmdr1, pfcrt, pfdhps e pfdhfr

[53;55;54]

levaram a uma mudança no regime terapêutico para a ma-

lária. Em 2004 o governo STP aderiu aos ACTs. Em 2007

os ACTs mostravam­se eficazes mas, mais uma vez, cientistas

do IHMT descreveram uma elevada prevalência de parasitas

resistentes à AMQ (fármaco companheiro em ACTs) e con-

firmaram as taxas de mutação perto da fixação para os genes

pfcrt

e

pfmdr1

, muito provavelmente devido ao passado de

resistência à CQ [61].

Analisando as origens dos sinais de seleção dos marcadores

de resistência de

P. falciparum

à SP na população parasitária

de STP foi possível concluir que uma vez na ilha (resultan-

te de várias introduções de parasitas mutantes oriundos do

continente ­África Ocidental), demorou uma década para os

mutantes atingirem frequências perto da fixação [52].

A intervenção do IHMT no contexto do controlo da malária

em Angola remonta ao domínio colonial [79] e foi manti-

da de forma mais ou menos regular ao longo das últimas 4

décadas [30;31;32]. A falência terapêutica à CQ neste país

foi relatada pela 1ª vez em 1984 e à SP em 1985. Em 2002

registavam-se elevadas taxas de falência à CQ (83,5%) e SP

(25,3%), e mais baixas à AMQ (17,3%). Estes dados em

conjunto com dados de marcadores moleculares [27] con-

firmaram a necessidade de alteração das terapêuticas de 1ª

linha para os ACTs, conforme recomendava a OMS [81].

Dado que os ACTs incluem um fármaco já associado a algum

grau de resistência pelas populações de parasitas - ex. amo-

diaquina (AMQ), mefloquina (MEF) e lumefantrine (LUM)

-, é necessário manter a vigilância através da análise de mar-

cadores moleculares [31;32]. Apesar da alta eficácia das

duas combinações ACT - artesunato (AS) + AMQ e

artemeter + LUM - emAngola, recentemente foi documen-

tado um caso de malária grave que não respondeu ao tra-

tamento com ACTs num paciente de origem vietnamita

infetado emAngola.

Dois componentes muito importantes das estratégias de

controlo da malária são o diagnóstico precoce e tratamento

correto e atempado, este último com base em medicamen-

tos antimaláricos acessíveis, como a CQ ou a combinação

sulfadoxina­Pyr (SP). No entanto, a emergência de resistên-

cia de

P. falciparum

à CQ surgiu no final de 1950 no sudeste

asiático espalhando-se na Ásia e, depois, para África nas três

décadas seguintes. A resistência à SP, que veio substituir a

CQ, seguiu aproximadamente o mesmo padrão, dispersan-

do-se ainda mais rapidamente.Apesar de falência terapêutica

ao tratamento com SP ser generalizada nas regiões endémi-

cas, a OMS continua a recomendar a utilização de SP para

o tratamento intermitente preventivo (TIP) da malária

em crianças e em grávidas [82].

A CQ deixou de ser usada para o tratamento de malária por

P. falciparum

, continuando a ser a terapia de 1ª linha para a

malária por

P. vivax

desde 1946.

P. vivax

é a espécie mais prevalente na América Latina, Su-

deste da Ásia, Mediterrâneo Oriental e Pacífico Ocidental.

É uma potencial causa de morbilidade e mortalidade entre

os 2,85 bilhões de pessoas que vivem em risco de contrair

a infeção, a maioria dos quais estão nas regiões tropicais da

América Latina e Central e Sudeste da Ásia.

Os primeiros casos de resistência de

P. vivax

à CQ foram do-

cumentados na Papua Nova Guiné em 1989. No Brasil, o

P.

vivax

tem sido responsável por mais de 80% dos episódios

de malária nos últimos anos. Nesta região, a resistência à

CQ foi primeiramente relatada em Manaus em 1999. Da-

dos mais recentes obtidos no estudo multicêntrico RAVRE-

DA (Rede Amazônica deVigilância de Resistência às Drogas

Antimaláricas) com pacientes tratados com CQ nos quais a

concentração plasmática do fármaco foi avaliada, confirmam

isso mesmo.A eficácia da CQ contra

P.vivax

tem vindo a dimi-

nuir na maioria dos locais onde

P. vivax

é endémica nomeada-

mente no Brasil como ilustrado pelos trabalhos do IHMT em

colaboração com a FMT­HVD do Amazonas [37;38]. Estes

estudos mostraram que: 1) a prevalência da resistência à CQ

determinada

in vitro

é semelhante à obtida em ensaios clíni-

cos de monitorização de pacientes na mesma área, sugerindo

que os testes

in vitro

desenvolvidos localmente são úteis para

a vigilância da resistência de

P. vivax

à CQ na Amazónia; 2) é

necessário clarificar a existência de estirpes de

P. vivax

simul-

taneamente resistentes à CQ e à MEF na Amazónia; e 3) foi

detetada uma mutação não­sinónima S382C no gene

pvdhps

associada à suscetibilidade

in vitro

de

P. vivax

à CQ.

Dado o aumento de casos de resistência à CQ por

P. vivax

,

ameaçando a saúde de milhões de pessoas em todo o mundo, a

OMS recomenda atualmente o tratamento dos casos de

P.vivax

comCQ onde esta ainda é eficaz, e um outro antimalárico (ex.

ACT) em áreas onde

P. vivax

é resistente à CQ [83].

Apesar de

P. vivax

poder ocorrer em toda a África, o risco de

infeção é menor pela alta frequência de indivíduos Duffy­

negativos entre as populações africanas. Mas isso pode estar a

mudar, pois evidências surgiram sustentando que a ausência

do antigénio Duffy não é mais uma barreira para

P. vivax

infe-

tar esse indivíduo. Isto foi demonstrado pelo estudo pioneiro

realizado no IHMT que mostrou evidências moleculares da

presença de

P. vivax

em indivíduos Duffy­negativos da Cos-

ta Oeste Africana (Angola e Guiné Equatorial) [25] em que

quase a totalidade da população é Duffy­negativa, bem como

em mosquitos, o que confirma a existência de transmissão

desta espécie.

Na República Democrática de Timor Leste, a malária por

P. falciparum

e

P. vivax

coexistem, mas a informação dispo-

nível sobre marcadores moleculares de resistência antes de