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A n a i s d o I HM T

endemias eram frequentes e estão documentadas desde os

anos 50, maioritariamente em Moçambique [8;9;10;11;12],

em São Tomé e Príncipe (STP) [13;14] e em Angola

[12;15;16;17;18;11;19]. Os resultados destas missões fo-

ram a base de tomada de decisão em matéria de contro-

lo da malária à época, revelando-se essenciais para manter

a malária administrável até o fim do domínio colonial, em

1974.

Após o domínio colonial em 1974 e, especialmente, com

a criação do Centro de Malária e outras Doenças Tropicais

(CMDT

http://cmdtla.org)

no IHMT em 1992 (financiado

pela FCT) o trabalho no IHMT passa a ser focalizado prin-

cipalmente na Comunidade dos Países de Língua Portugue-

sa (CPLP) como está patente pelo número de publicações:

Angola [20;21;22;23;24;25;26;27;28;29;30;31;32;33], Brasil

[34;21;35;36;37;38], Cabo Verde [39;40;41], Guiné Bissau

[28;42;43]

,

Guiné Equatorial [25;44;44], Moçambique [45;

21;29;46;26;47;48;49;50;51;33], STP [21;44;50;52;53;54

;55;56;57;58;59;60;61;62;64;63;65;66;27;67;52] e Timor

Leste [69;70]. Mas também em outros países como a Co-

lômbia [71] ou aTailândia [68].

As atividades de controlo da malária em países da CPLP com

diferentes condições epidemiológicas de malária – Angola,

Brasil, CaboVerde, Guiné Bissau, Guiné Equatorial, Moçam-

bique, STP eTimor Leste são bons exemplos deste trabalho.

O arquipélago de CaboVerde tem sido considerado uma área

de malária instável, com taxas de incidência superiores a 100

indivíduos por cada 1000 habitantes. Em 2012 foi incluído

numa série de estudos de caso para a eliminação da malária

(Cabo Verde, Maurícias, Sri Lanka, Turquemenistão e Tur-

quia) pelo Programa Global da OMS de Malária e Global

Health Group da Universidade da Califórnia (UCSF). Em

2013 foram registados pelo Serviço deVigilância Epidemio-

lógica do Ministério de Saúde de Cabo Verde 22 casos de

malária autóctone e 12 importados. Atualmente a malária

em CaboVerde está em fase de pré­eliminação.

De acordo com Meira et al. [72] a epidemia de malária é co-

nhecida por ocorrer no arquipélago de Cabo Verde desde o

passado remoto. O parasita da malária deve ter sido introdu-

zido no arquipélago durante a sua colonização no século XV

[73]. Em 1952 Costa Monteiro considerava a malária como o

mais grave problema de saúde pública no arquipélago, sendo

Santiago a ilha mais afetada, seguida pelo Fogo, SãoVicente,

São Nicolau e Boavista.

Entre 1940 e 1970, as medidas de controlo, principalmen-

te medidas anti-vetor [pulverização com DDT (dichlorodi-

phenyltrichloroethane) e eliminação de larvas de mosquito],

permitiram a erradicação da malária nas ilhas do Sal em

1950, SãoVicente em 1954, Boavista e Maio em 1962 e San-

tiago em 1968 [73].

No início da década de 70 a Missão de Controlo e Combate

a Endemias de CaboVerde, responsável por toda a estratégia

de controlo no arquipélago (pulverização residual interior

principalmente com DDT, anti-larvas de mosquito e busca

ativa de casos de infeção), foi extinta. Em setembro de 1973,

depois de uma entrada maciça de pessoas vindas da África

continental e de STP e com a ajuda das chuvas de agosto,

ocorreu um surto com 148 casos de malária [73].

Uma série de surtos normalmente associados à entrada des-

controlada de pessoas provenientes de áreas endémicas da

África [74] ocorreram desde então. Com o aumento do nú-

mero de casos em Santiago, bem como com o alargamento

da área de risco à ilha da Boavista, a decisão política de inten-

sificar as medidas de controlo para, eventualmente, erradi-

car a malária até 2020 foi incluída no documento 2007­2020

da política nacional de saúde [75]. O surto, em 1995, no

bairro de Santa Catarina foi acompanhado e caracterizado

do ponto de visa parasitológico e molecular, durante um

ano por uma equipa do IHMT [39]. Este limitou-se a uma

aldeia isolada, Achada Leite, resultando na infeção de pelo

menos 40% dos moradores com

P. falciparum

geneticamente

homogéneo e resistente à CQ. Um ano após o surto, 10%

dos habitantes ainda apresentavam parasitas do mesmo ge-

nótipo. Nesse estudo o potencial para portadores assintomá-

ticos transmitirem malária muito tempo depois da infeção

inicial foi demonstrado. É provável que o surto inicial te-

nha resultado da ocorrência simultânea de duas condições

que favorecem a transmissão: (i) a presença de gametócitos

infeciosos em pelo menos um indivíduo e (ii) a existência

de condições climáticas que permitiram que a população do

mosquito prosperasse e propagasse os parasitas à população

remanescente. Deve ter envolvido um único caso primário,

uma população altamente suscetível e uma taxa reprodutiva

alta, o que, coletivamente, determina um elevado potencial

de transmissão [39].

Surpreendentemente, nestes dois estudos anteriores não se

registaram casos de malária grave, apesar das altas parasité-

mias [39;40]; a maior parte dos indivíduos com parasitémia

patente tinha >1000­10.000 parasitas/μl de sangue, que é

geralmente considerado o

cut­off

para a malária clinica. No

entanto, nenhum dos infetados apresentou mais do que sin-

tomas leves de malária, como febre, dor de cabeça, náuseas e

mal­estar geral [39; 40].

A sintomatologia atenuada pode dever-se à premunição, já

descrita para outras áreas de transmissão instável e de baixo

nível de endemicidade de malária. Além disso, as diferenças

de impacto clínico da infeção pode ser consequência de fa-

tores do hospedeiro, como já foi demonstrado. Os polimor-

fismos mais comuns e mais bem caracterizados, associados à

proteção, são os que envolvem proteínas especificas do eri-

trócito tais como hemoglobina (Hb) e enzimas, tais como

a glucose­6­fosfato desidrogenase (G6PD) e piruvato­quinase

(PK). Os alelos associados a estas variantes apresentam alta

frequência em áreas onde a malária ainda é ou foi muito pre-

valente, devido à sua pressão seletiva no genoma humano.

No sentido de se entender qual a possível influência destes

polimorfismos na baixa morbilidade dos casos de malária ob-

servados (em especial na Ilha de Santiago) foi efetuado um