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A n a i s d o I HM T
A Ciência no IHMT: continuidade e inovação
Science at IHMT: continuity and innovation
Paulo Ferrinho
Diretor do Instituto de Higiene e MedicinaTropical
Zulmira Hartz
Vice-Diretora do Instituto de Higiene e MedicinaTropical
Este número dos Anais do Instituto de Higiene e Medici-
na Tropical reflete temas de importância fulcral da ativi-
dade do IHMT.
Oito dos artigos referem doenças transmitidas por veto-
res
1-8
, quatro o VIH/SIDA
9-12
e três tuberculose e outras
micobactérias
9,6,10
. Estes temas são abordados nas diferen-
tes secções – Artigos Originais, Formação
5,7
, História
7,8
– refletindo alguns dos diferentes olhares com que abor-
damos os nossos objetos de estudo em diferentes popu-
lações (europeias, africanas, sul americanas e viajantes e
migrantes).
As doenças transmitidas por vetores estão associadas à gé-
nese da Escola de Medicina Tropical que deu origem ao
atual Instituto, e têm sido estruturantes da forma como
nos organizamos e diferenciamos tecnologicamente, in-
vestigamos, ensinamos, intervimos em Portugal e nos
trópicos e nos internacionalizamos. Neste número dos
Anais realçamos o trabalho em malária
1
, leishmaniose
3
e
arboviroses
2
. A relevância desta área de trabalho reflete-
-se, por exemplo, na inclusão de cientistas do IHMT na
Plataforma de Especialistas em Entomologia Médica e
Saúde Pública, coordenada pela Direção Geral da Saúde,
para preparar um plano de contingência para a entrada
em Portugal continental de mosquitos transmissores de
doenças tropicais, decisão em parte motivada pelo nosso
envolvimento recente nos surtos de dengue em CaboVer-
de, na Madeira, em Moçambique e em Angola.
O IHMT esteve desde o início envolvido em deslindar
os desafios colocados pela pandemia de SIDA. Ajudou a
identificar o VIH 2, contribuiu para esclarecer os cami-
nhos que permitiram que uma infeção de pouca relevân-
cia local na África Ocidental se tornasse na maior pan-
demia de todos os tempos e, mais recentemente, tem-se
debruçado sobre as alterações na dinâmica de transmis-
são da epidemia do VIH particularmente em populações
de maior risco, à análise das mutações virais que confe-
rem resistência aos antirretrovirais e à caraterização da
resposta humoral não neutralizante e neutralizante e o
desenvolvimento de vacinas para a infeção VIH. O VIH é
uma infeção que contribui para amplificar outras doen-
ças, como as transmitidas por vetores (leishmaniose) e as
micobacterioses
10
.
Nas origens do IHMT estão também os trabalhos sobre
a tuberculose e outras micobactérias que se refletiram
sobretudo ao nível do apoio às populações e aos progra-
mas locais (nas colónias de então) de luta contra a tuber-
culose A criação formal de um grupo de Micobacterio-
logia data de 1999, associando um importante trabalho
de investigação laboratorial a parcerias com os hospitais
da área da Grande Lisboa e em alguns países da CPLP
(a Rede FORDILAB-TB), contribuindo para implemen-
tar com eles novas metodologias para a deteção precoce
da tuberculose e outras micobacterioses. Merecem igual
destaque, pelo impacto que poderão vir a ter no futuro,
a investigação aplicada no desenho e teste de novas abor-
dagens de deteção precoce e tratamento da tuberculose e
tuberculose resistente
9
.
Destacamos mais três temas: Big Data
4
, Sistemas Univer-
sais de Saúde
11
e Avaliação
12-14
.
A nossa preocupação com o
Big Data
reflete os grandes
desafios para a gestão da informação e do conhecimento
nas nossas áreas da ciência, incluindo as problemáticas das
doenças tropicais, emergentes, reemergentes e negligen-
ciada, que exigem um esforço para sustentar o interesse
crescente e redes colaborativas sólidas em Portugal, es-
forço esse que parece estar a ser bem-sucedido no IHMT
em sua parceria com a Fiocruz
4
.
O tema em debate, de grande relevância global e para os
países lusófonos, integra-se numa das linhas de trabalho
que o Instituto adotou há várias décadas – o estudo e re-
forço dos sistemas de serviços de saúde (ver, por exem-
plo, os Anais do Instituto de Medicina Tropical vol 15,
Editorial