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Durante os anos 50 e início da década de 60, acreditava-se

possível a erradicação da malária dada a disponibilidade de

antimaláricos eficazes para o tratamento dos doentes, inse-

ticidas para interromper a transmissão e a ausência de um

reservatório animal para o parasita. Assim, a OMS a fim de

erradicar a malária organizou programas em que utilizava a

pulverização residual interior e administração em massa de

cloroquina (CQ) e pirimetamina (Pyr). Estes esforços glo-

bais, levaram à erradicação oficial da malária no continente

europeu em 1975 [1].

Em Portugal os programas de erradicação resultaram na in-

terrupção da transmissão em 1958. Em 1973 a erradicação da

malária em Portugal é confirmada pela OMS. O Instituto de

Higiene e Medicina Tropical (IHMT), e particularmente um

dos seus académicos Prof. Cambournac, desempenharam um

papel fundamental nesta erradicação.

No entanto, em vastas áreas endémicas, a ausência de infraes-

truturas de saúde sólidas e organizadas impediam o estabeleci-

mento de uma vigilância eficaz.

No início dos anos 70, os consultores da OMS [2] começam a

perceber, devido à ausência do impacto esperado dos progra-

mas, que a erradicação na grande maioria dos países não era

uma meta realista. Apesar disto, somente em 1993 foi reco-

nhecido pela OMS que era necessário mudar de programas

centralizados e baseados em regimes de administração de an-

timaláricos em massa para programas flexíveis, com uma

boa relação custo benefício, sustentáveis, adaptados às condi-

ções e necessidades locais [3]. O aparecimento e propagação

da resistência à CQ e, em seguida, à Pyr, comprometeram

ainda mais a eficácia dos programas baseados na administração

em massa de antimaláricos, até então um dos pilares dos pro-

gramas de erradicação.

O Plano Global de Ação para Controlo da Malária, outra es-

tratégia da OMS para a prevenção da mortalidade e redução

da morbilidade, foi adotado pela conferência ministerial reali-

zada emAmsterdão em 1992 [3].

Em 2013 cerca de 3,2 bilhões de pessoas ­ quase metade da

população mundial ­estavam em risco de contrair malária, fo-

ram registados 124 a 283 milhões de casos e cerca de 584.000

mortes. Desde 2000, programas de controlo e prevenção le-

varam a uma redução de 47% e 54%, respetivamente, taxas de

mortalidade por malária na região africana [4]. No entanto, a

taxa de declínio da mortalidade diminuiu entre 2011 e 2013,

facto que é atribuído pela OMS aos fundos insuficientes para

fornecer redes mosquiteiras impregnadas com inseticidas [4]

e às interrupções no fornecimento das terapias combinadas

à base de artemisinina (ACTs) em especial a grávidas e crian-

ças com menos de 5 anos, assim como, à relativamente lenta,

implementação da terapêutica da malária grave comAS intra-

venoso. Os ACTs são oficialmente recomendados pela OMS

desde 2010 para o tratamento da malária não complicada por

P. falciparum

[5].

As pessoas que vivem nos países mais pobres são as mais vulne-

ráveis à malária. Em 2013, 90% de todas as mortes por malá-

ria ocorreram na região africana da OMS, principalmente en-

tre crianças menores de 5 anos de idade. O atual compromisso

das organizações e doadores internacionais, regionais e nacio-

nais é de disponibilizar fundos, tendo concertado estratégias

no sentido de em 2015 se diminuírem as taxas de mortalidade

global em 55% e infantil (<5anos) em 61% (fig.1).

O IHMT no combate à malária na CPLP

A presença histórica de Portugal em áreas endémicas de

malária, bem como o facto de a malária também ter sido

um problema de saúde em Portugal [6;7] fez com que equi-

pas portuguesas, nomeadamente do IHMT, tenham vindo a

adotar um papel muito relevante no estudo e controlo des-

ta doença. Missões do IHMT para o estudo e prevenção de

Artigo Original

Fig. 1

Distribuição dos casos de malária entre 2000 e 2013.

redução do nº de casos para zero desde 2000;

a caminho da redução de >70% dos casos;

50­75% de decréscimo;

decréscimo de <50%;

aumento da incidência;

dados insuficientes;

não aplicável; sem transmissão de malária (adaptado de (4).