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no extremo 5’mas sem cauda de poly-A, é limitado em ambas

os extremos por regiões não traduzidas, as quais desempenham

papéis regulatórios importantes durante a replicação, transcrição

e tradução virais (Harris

et al

., 2006).As diferentes proteínas vi-

rais são codificadas numa única grelha de leitura aberta (ORF, do

Inglês

Open Reading Frame

), sendo que as sequências que codifi-

cam as proteínas estruturais [C, prM (percursor da proteína M)

e E] ocupam a região 5’ do genoma, enquanto que as 7 proteínas

não-estruturais (NS1, NS2a, NS2b, NS3, NS4a, NS4b e NS5) são

codificadas pela região 3’.Todas estas proteínas são sintetizadas ao

nível do retículo endoplasmático (Fig.1) sob a forma de uma única

poliproteína, a qual é processada por proteases virais (complexo

NS2b/NS3) e celulares (furina e, provavelmente, outras).A fun-

ção das diferentes proteínas virais ainda não é totalmente conhe-

cida. No entanto, duas delas têm sido extensamente estudadas.

Numa delas, designada NS3, podem

ser identificados domínios funcionais

responsáveis pela sua atividade de pro-

tease serínica e helicase de RNA. Por

seu turno, a proteína NS5, caracteri-

zada pela presença na região N-termi-

nal de um domínio de transferase de

grupos metilo, é a proteína responsá-

vel pela replicação do genoma viral,

atuando como polimerase de RNA

dependente de RNA. Esta replicação

ocorre no interior de um conjunto de

vesículas (

vesicle packets

) que proliferam

na região perinuclear e que parecem

conter os complexos de replicação

viral (revisto porWelsch

et al

., 2009).

O vetor

O conhecimento em relação aos ci-

clos silváticos do DENV, assim como

as espécies vetoras implicadas na sua

transmissão, é relativamente escasso.

Baseados em estudos efetuados iniciados na década de 1970, no

Senegal,

Ae.furcifer

,

Aedes (Diceromyia) taylori

(Edwards, 1936) e

Ae.

luteocephalus

são apontadas como principais espécies responsáveis,

emÁfrica,pela transmissão silvática deDENV (Diallo

et al.

,2005).

Estas espécies,típicas das galerias florestais exploramhabitats arbó-

reos. No entanto, algumas destas, como por exemplo

Ae. furcifer

,

apresentam um comportamento oportunista e, em caso de intro-

missão humana na sua área de distribuição,podem funcionar como

vetores ponte originando

foci

silváticos de doença.

Na Ásia,mosquitos do complexo

Ae.niveus

parecem ser os respon-

sáveis pela transmissão de DENV em ambientes silváticos.

Esta

espécie primatofílica é abundante na copa das florestas malaicas e,

tal como

Ae. furcifer

, apresenta a capacidade de descer ao nível do

solo e alimentar-se emhumanos quando as circunstâncias o permi-

tem, facilitando a transferência de DENV silváticos, oriundos da

floresta, para o ambiente rural (Vasilakis

et al.

, 2011). Nestas áre-

as rurais de emergência,

Aedes (Stegomyia) albopictus

(Skuse, 1894)

(Fig. 2) é uma das espécies prováveis capazes manter a transmissão

do DENV em ciclo urbano.A existência de um ciclo de transmis-

são silvático de DENV nas Américas ainda não foi demonstrada.

Embora estudos serológicos em populações humanas isoladas em

áreas remotas,distantes da área de distribuição de

Ae.aegypti aegypti

(Fig. 2)

,

apontempara um contacto comDENV silvático, nenhum

dos isolados de DENV do Novo Mundo apresenta evidências filo-

genéticas de uma linhagem silvática (Roberts

et al.

, 1984).

Em ambiente urbano,

Ae. aegypti aegypti,

é o principal vetor do

DENV, enquanto que outras espécies do mesmo género, tais

como

Ae.albopictus

e

Ae.polynesiensis

atuam, geralmente, como ve-

tores secundários. Embora

Ae.albopictus

seja apontado como o ve-

tor original através do qual se estabeleceu, em ambiente urbano, a

transmissão do DENV entre humanos

e apresente, de facto, maior compe-

tência vetora que

Ae. aegypti aegypti

,

este último é, em regra, o responsável

pela ocorrência dos grandes surtos de

dengue. Para a elevada capacidade de

transmissão desta espécie contribuem

a sua manifesta antropofilia, a sua pre-

ferência por ambientes peridomésti-

cos, a tendência para efetuar prospeção

(

probing

) em diferentes indivíduos an-

tes de efetuar uma refeição sanguínea,

e o facto de estas poderem ocorrer

múltiplas vezes durante um único ci-

clo gonotrófico, até à postura de ovos

(Scott &Takken, 2012).

Apesar de esta espécie ser uma das

que apresenta uma maior dispersão

geográfica (White, 2003), considera-

-se que a sua distribuição é restrita às

latitudes entre os 35°N e 35°S, às quais

corresponde uma isotérmica entre Ja-

neiro e Julho de 10ºC (Christophers,

1960). De facto, as baixas temperatu-

ras são importantes condicionantes da viabilidade do

Ae. aegypti

especialmente das suas formas imaturas. Estas são frequentemen-

te encontradas em habitats com água, normalmente contentores

ou recipientes artificiais, em estreita associação com as habitações

humanas, ou mesmo no interior destas.A maioria das fêmeas de

Ae. aegypti

parece permanecer durante a sua vida no interior, ou

na vizinhança imediata do ambiente onde emergiu como adulto,

de forma que são as pessoas, e não os mosquitos, que mais ra-

pidamente transportam o DENV entre comunidades separadas

geograficamente (WHO, 2009).

Aedes albopictus

, que atua como vetor da dengue quer em ciclo ur-

bano, quer emzonas rurais de emergência da doença, é uma espé-

cie originária da Ásia. Esta espécie, apesar de se comportar como

vetor secundário em áreas de simpatria com

Ae. aegypti aegypti

tem registado, nos últimos anos, uma dispersão considerável para

Fig. 2 – Os principais vetores do vírus da dengue:

Aedes aegypti

aegypti

(em cima) e

Aedes albopictus

(em baixo) (créditos:

James Gathany; disponível em

http://phil.cdc.gov/phil/

).

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