83
Tema 3
VETORES E HOSPEDEIROS INTERMEDIÁRIOS INVERTEBRADOS
HENRIQUE SILVEIRA (SILVEIRA H) *
/
**
SILVANA BELO (BELO S) *
/
***
* Unidade de Ensino e Investigação de Parasitologia Médica, Instituto de Higiene e Medicina Tropical
(IHMT), Universidade Nova de Lisboa. Rua da Junqueira, 100, 1349-008 Lisboa, Portugal. Tel.:
213652657.
:
HSilveira@ihmt.unl.pt(Silveira H).
** Centro de Malária e Outras Doenças Tropicais (CMDT) / IHMT.
*** Unidade de Parasitologia e Microbiologia Médicas (UPMM) / IHMT.
RESUMO TEMÁTICO
As doenças transmitidas por vetores e outros invertebrados
representam um enorme peso na saúde humana e veterinária, se
tivermos em conta que 3,3 milhares de milhão de pessoas estão em
risco de contraírem malária e que, em 2010, as mortes por malária
foram estimadas em 655 mil (WHO, 2012), que a schistosomoseeas
geohelmintoses afetam 2 milhares de milhão de pessoas, provocando
morbilidade em 300 milhões (WHO, 2006), e que 350 milhões de
pessoas se encontram em risco de contrair leishmaniose(WHO,2010),
para apenas mencionar algumas doenças parasitárias. Contudo, o
panorama é mais vasto e doenças virais transmitidas por vetorestêm
vindo a crescer assustadoramente, inclusive em locais antes tidos
como improváveis, como os surtos de infeção por vírus do Nilo
Ocidental e Chikungunya, não esquecendo a dengue, uma pandemia
crescente à qual Portugal não se encontra imune.
As doenças transmitidas por vetores e hospedeiros Intermediários
invertebrados têm uma complexidade acrescida no seu controlo e
prevenção, que advém da dificuldade em prever o seucomportamento,
da diversidade de biótopos a eles associados e da sua capacidade de
evadirem as medidas de controlo, resistindo aos inseticidas, larvicidas
e moluscicidas. Outro nível de complexidade é a interação entre os
hospedeiros e os organismos patogénicos, havendo poucainformação
sobre os mecanismos de regulação da infeção pelo vetor.
O impacto das doenças transmitidas por vetores, assim como a
consciencialização das implicações das alterações climáticasnasaúde
humana, têm desencadeado um interesse crescente, na sociedadeena
comunidade científica, sobre os vetores das principais doenças,
nomeadamente quanto ao modo de as controlar, eliminar ou até
erradicar, já que, no passado, o sucesso no controlo destas doenças
esteve sempre associado ao controlo vetorial. Este interessetemsido
potenciado com a evolução rápida da tecnologia e a publicação do
genoma de muitas espécies vetoras e hospedeiros intermediários
invertebrados
(http://www.vectorbase.org/;
http://
biology.unm.edu/biomphalaria-genome/consortium.html).
O estudo dos vetores e hospedeiros intermediários invertebradosno
IHMT tem sido uma área com forte implementaçãoeimpactoexterno,
em particular nos países africanos de língua oficial portuguesa
(PALOPs), contribuindo amplamente para o seu conhecimento
científico, incluindo a implementação de abordagens inovadorasque
contribuiram, com sucesso, para a redução da incidência de várias
doenças transmitidas por estes invertebrados, como os exemplosque
são abordados seguidamente.
Neste capítulo, pretende rever-se diversos aspetos da biologiados
vetores e hospedeiros intermediários, assim como a suainteraçãocom
os organismos patogénicos. O objetivo não é fazer uma revisão
exaustiva mas sublinhar alguns aspetos mais importantes, tanto nas
temáticas mais tradicionais como as abordagens mais recentes e
inovadoras, tendo presente os desafios colocados pelas novas
tecnologias aplicadas ao estudo e controlo dos vetores e hospedeiros
intermediários, não esquecendo o contributo da investigaçãoefetuada
no IHMT para esta área fundamental no controlodeumgrandenúmero
de doenças com elevado impacte em saúde humana e veterinária.
Serão abordadas diversos aspetos da bioecologia de dois vetores de
tripanos-somatídeos, as interações entre o plasmódio e o vetor da
malária e, finalmente, os moluscos como hospedeiros intermediários
de helmintoses.
TEMATIC SUMMARY
The diseases transmitted by arthropods and otherinvertebratehosts
represent an enormous burden to human and animal health, if we
consider that 3.3 billion people are at risk of acquiringmalaria, and
that, in 2010, malaria deaths were estimated at 655000(WHO,2012),
that schistosomiasis and geohelminthiasis affect two billionhumans,
causingmorbidity to 300 million (WHO, 2006), and that 350million
people are at risk of contracting leishmaniasis (WHO, 2010),onlyto
mention a fewparasitic diseases. Furthermore, the picture is wider,
and the incidences of vector-borne viral diseases have beenincreasing
sharply, even in places previously considered unlikely, as seen in
recent outbreaks of West Nile andChikungunya viruses,notforgetting
dengue, a growing pandemic from which Portugal is not exempt.
The prevention and control of vector-borne diseases and ofthose
transmitted by intermediate invertebrate hosts are highlycomplex,as
a consequence of the difficulty to predict the invertebrate host
behaviour, of the diversity of the biotopes associatedwith them,and
of their ability to evade control measures, resisting insecticides,
molluscicides and larvicides. Another level of complexity isaddedby
the scarce information on the interactions between these hosts and
their pathogens, especially on the mechanisms regulatingtheinfection
process.
The impact of vector-borne diseases, as well as the increasing
awareness about the implications of climate change on humanhealth,
has driven society and the scientific community intoagrowinginterest
on the vectors of major vector-borne diseases, and howto control,
eliminate or even eradicate them. In the past, the successofcontrolling
these diseases has always been associatedwith vector control which,
coupled to the rapid technological evolution and the publication of
genomes from many vector species and invertebrateintermediatehosts
(http://www.vectorbase.org/; http:// biology.unm.edu/biomphalaria-
genome/consortium.html),has boosted the interest on these vectors.
The study of vectors and intermediate invertebrate hostshasbeen
strongly implemented, with external impact, at theIHMT,particularly
in african portuguese-speaking countries (PALOPs), contributing
widely for the general scientific knowledge in this area, includingthe
implementation of innovative approaches that already contributed
successfully for the reduction of the incidence of various diseases
transmitted through these invertebrates, as those discussed below.
This chapter aims to reviewvarious aspects of thebiologyofvectors
and intermediate hosts, as well as their interaction with thepathogens
they transmit. The intention is not to make an exhaustivereviewbut