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A n a i s d o I HM T
sintomas, etiologia e tratamento. Descreveu 75 novas doenças
tropicais e foi autor de um novo método para diagnóstico da
amebíase latente e crónica, que ficou conhecido como “os três
sinais de Castellani”. Introduziu também os derivados arsenicais
no tratamento da framboesia e o tártaro emético no tratamento
do Kalazar indiano, bem como o iodo na amebíase [17].
Ao chegar a Lisboa foi recebido por Fernando da Fonseca no
Hospital do Rego, hoje conhecido por Hospital Curry Cabral,
mas no ano seguinte foi integrado nos quadros do IMT pelo
Ministro das Colónias, por indicação de João Fraga de Azevedo,
diretor do Instituto. Aqui regeu a disciplina de Patologia e Clí-
nicaTropical entre 1947 e 1959, altura a partir da qual passou a
ser professor honorário [18]. Em 1966, o IMT foi integrado na
Escola Nacional de Saúde Pública (ENSPMT) e Castellani aqui
continuou a desenvolver a sua investigação.
O percurso de Castellani na escola portuguesa de medicina
tropical está muito associado à figura de Francisco Cambour-
nac. Este tinha sido seu aluno na
London School of Hygiene and
Tropical Medicine
, ao mesmo tempo que tinha sido aluno, no
seu início de carreira, de Fernando da Fonseca.A sua entrada
no IMT seria inevitável, tendo em conta o curriculum de
Castellani e a sua
expertise
no universo tropical, mas terá sido
Cambournac a figura que mais o marcou na escola portugue-
sa, por se ter destacado também no contexto internacional
pós IIª Guerra Mundial, sendo por isso uma referência, tal
como podemos depreender das suas palavras:
Certamente sabeis que recentemente o Instituto foi transformado
em Escola nacional de saúde Pública e Medicina tropical, sob a
direcção de grande higienista, o Professor Cambournac… devo
porém dizer que eu não ensinava higiene pura,mas doenças pro-
duzidas por fungos,as micoses,doenças que então chamava pouco
a atenção,mas à qual somente dei alguma importância pelo lado
higiénico (…) [38:55].
Se refletirmos sobre a coautoria das suas publicações, os convites
que recebia para participar em vários eventos científicos fora do
país, facilmente no apercebemos que Castellani estava no seio
da comunidade médica tropicalista portuguesa mas sempre se
movimentou fora deste circuito, procurando reconhecimen-
to fora do país. O número de coautores nas suas publicações é
reduzidíssimo e nunca publicou nenhum artigo com qualquer
colega português. Não obstante o reconhecimento público que
a instituição que o acolheu em 1947 lhe prestou em 1968, tan-
to na própria instituição (onde foi descerrada uma lápide com
o seu nome em frente aos seu laboratório), como na Academia
das Ciências de Lisboa e na Sociedade de Ciências Médicas, ou
ainda pela gratidão que os alunos de 1958/1959 lhe manifesta-
ram em 1959 [18], não parece ter sido valorizada a sua passagem
pelo Instituto. Provavelmente porque Castellani se considerava
na periferia científica, sem parceiros de diálogo à altura e acima
de tudo porque sempre foi um homem isolado e treinado para
vencer sozinho o curso do protagonismo.
Ficou assim, em Portugal, isolado, apoiando-se sobretudo na in-
vestigação laboratorial, no seu laboratório que intitulava o seu
“jardim de micróbios”:
My happiest hours are spent in my laboratory. I have there “mon
jardin de microbes,” a collection of nearly all the bacteria and
fungi I have chanced to find in my long years of work in so many
different countries. I enjoy seeing the numerous tubes containing
the diverse microbic cultures-white, red, black, yellow-some of
them smooth, some rough and crinkled, some spiny, some covered
with silky,cottony or woolly down [39:1023].
Aqui manteve em cultura vários micro-organismos, durante
longos períodos de tempo, como resultado da otimização das
variáveis de crescimento [40]. Era seu favorito, o primeiro fungo
que isolou no Ceilão, em 1904 e o
Tryptocun rubrum
, responsável
pelo pé de atleta.Mas muitos outros faziamo seu deleite, como o
Baccccilus Columbensis A e B (
1905), o
Treponema pertenue
(1907), o
Baccccilus madampensis
(1911) o
Micrococcus metamycetus
(1933), o
Fig. 5:
Imagem da portaria governamental que atribuiu a Castellani o título
de professor honorário do Instituto de MedicinaTropical, em Lisboa.
Fonte: Espólio de Castellani, IHMT.
Fig. 6:
Fotografia de
Castellani no seu labo-
ratório no Instituto de
MedicinaTropical.
Fonte: Espólio IHMT.