Table of Contents Table of Contents
Previous Page  123 / 210 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 123 / 210 Next Page
Page Background

123

A n a i s d o I HM T

sintomas, etiologia e tratamento. Descreveu 75 novas doenças

tropicais e foi autor de um novo método para diagnóstico da

amebíase latente e crónica, que ficou conhecido como “os três

sinais de Castellani”. Introduziu também os derivados arsenicais

no tratamento da framboesia e o tártaro emético no tratamento

do Kalazar indiano, bem como o iodo na amebíase [17].

Ao chegar a Lisboa foi recebido por Fernando da Fonseca no

Hospital do Rego, hoje conhecido por Hospital Curry Cabral,

mas no ano seguinte foi integrado nos quadros do IMT pelo

Ministro das Colónias, por indicação de João Fraga de Azevedo,

diretor do Instituto. Aqui regeu a disciplina de Patologia e Clí-

nicaTropical entre 1947 e 1959, altura a partir da qual passou a

ser professor honorário [18]. Em 1966, o IMT foi integrado na

Escola Nacional de Saúde Pública (ENSPMT) e Castellani aqui

continuou a desenvolver a sua investigação.

O percurso de Castellani na escola portuguesa de medicina

tropical está muito associado à figura de Francisco Cambour-

nac. Este tinha sido seu aluno na

London School of Hygiene and

Tropical Medicine

, ao mesmo tempo que tinha sido aluno, no

seu início de carreira, de Fernando da Fonseca.A sua entrada

no IMT seria inevitável, tendo em conta o curriculum de

Castellani e a sua

expertise

no universo tropical, mas terá sido

Cambournac a figura que mais o marcou na escola portugue-

sa, por se ter destacado também no contexto internacional

pós IIª Guerra Mundial, sendo por isso uma referência, tal

como podemos depreender das suas palavras:

Certamente sabeis que recentemente o Instituto foi transformado

em Escola nacional de saúde Pública e Medicina tropical, sob a

direcção de grande higienista, o Professor Cambournac… devo

porém dizer que eu não ensinava higiene pura,mas doenças pro-

duzidas por fungos,as micoses,doenças que então chamava pouco

a atenção,mas à qual somente dei alguma importância pelo lado

higiénico (…) [38:55].

Se refletirmos sobre a coautoria das suas publicações, os convites

que recebia para participar em vários eventos científicos fora do

país, facilmente no apercebemos que Castellani estava no seio

da comunidade médica tropicalista portuguesa mas sempre se

movimentou fora deste circuito, procurando reconhecimen-

to fora do país. O número de coautores nas suas publicações é

reduzidíssimo e nunca publicou nenhum artigo com qualquer

colega português. Não obstante o reconhecimento público que

a instituição que o acolheu em 1947 lhe prestou em 1968, tan-

to na própria instituição (onde foi descerrada uma lápide com

o seu nome em frente aos seu laboratório), como na Academia

das Ciências de Lisboa e na Sociedade de Ciências Médicas, ou

ainda pela gratidão que os alunos de 1958/1959 lhe manifesta-

ram em 1959 [18], não parece ter sido valorizada a sua passagem

pelo Instituto. Provavelmente porque Castellani se considerava

na periferia científica, sem parceiros de diálogo à altura e acima

de tudo porque sempre foi um homem isolado e treinado para

vencer sozinho o curso do protagonismo.

Ficou assim, em Portugal, isolado, apoiando-se sobretudo na in-

vestigação laboratorial, no seu laboratório que intitulava o seu

“jardim de micróbios”:

My happiest hours are spent in my laboratory. I have there “mon

jardin de microbes,” a collection of nearly all the bacteria and

fungi I have chanced to find in my long years of work in so many

different countries. I enjoy seeing the numerous tubes containing

the diverse microbic cultures-white, red, black, yellow-some of

them smooth, some rough and crinkled, some spiny, some covered

with silky,cottony or woolly down [39:1023].

Aqui manteve em cultura vários micro-organismos, durante

longos períodos de tempo, como resultado da otimização das

variáveis de crescimento [40]. Era seu favorito, o primeiro fungo

que isolou no Ceilão, em 1904 e o

Tryptocun rubrum

, responsável

pelo pé de atleta.Mas muitos outros faziamo seu deleite, como o

Baccccilus Columbensis A e B (

1905), o

Treponema pertenue

(1907), o

Baccccilus madampensis

(1911) o

Micrococcus metamycetus

(1933), o

Fig. 5:

Imagem da portaria governamental que atribuiu a Castellani o título

de professor honorário do Instituto de MedicinaTropical, em Lisboa.

Fonte: Espólio de Castellani, IHMT.

Fig. 6:

Fotografia de

Castellani no seu labo-

ratório no Instituto de

MedicinaTropical.

Fonte: Espólio IHMT.