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A n a i s d o I HM T
to científico das suas contribuições na medi-
cina tropical, ao serviço do imperialismo bri-
tânico, recebeu o título de
Knigts Commander
of the Most Honorable Order of St.Michael and St.
Geor
ge (KCMG), em 1927, de GeorgeV,mas
nem sempre dele foi detentor. Foi-lhe retira-
do durante a IIª Guerra e só lhe foi reatribuí-
do um mês antes da sua morte, por Isabel II.
Em 1934 foi nomeado Conselheiro Sanitário
e Inspetor Geral das ForçasArmadas e mobi-
lizado para a guerra Itália-Etiópia, entre 1935
e 1939. Ficou responsável pela organização
dos serviços médicos italianos em África e
os resultados que obteve, nomeadamente no
âmbito da taxa de mortes por malária, confe-
riram-lhe um título nobiliárquico concedido
pelo reiVictor Emanuel, o título de
Conte Ere-
ditario de Chisimaio
[17].
Na IIª Guerra Mundial foi nomeado comoAlto Conselheiro das
ForçasArmadas, com responsabilidade inicial da região da África
Setentrional, da Grécia,Albânia e Líbia, e terminou assumindo o
comando total de África, em 1942. O seu desempenho foi reco-
nhecido com a atribuição do título de Cavaleiro da OrdemMili-
tar de Savoia, a que se seguiram outras condecorações em vários
países. Recebeu a
Grande Cruz da Coroa Italiana
e a
Grande Cruz da
Ordem de Malta
(Itália), a
Grande Cruz de Mérito Civil
(Espanha), a
Grande Cruz da Ordem de S.Sava
(Jugoslávia), a
Grande Cruz do Nilo
(Egito), e a de
Officier de laLégion d’Honneur
(França), de
Grande
Ufficiale Stela Coloniale
e a de
Commendator SS. Maurizzio e SS La-
zzaro
(Itália), entre outras distinções e condecorações militares
[18]. Recebeu em Portugal as
Palmas Académicas de 1ª Classe
(Pal-
mas de Ouro) da Academia das Ciências de Lisboa e as insígnias
da Ordem de Santiago, em 1968. Foram realizadas várias outras
homenagens, entre as quais se contam a dos alunos do curso de
medicina tropical de 1958-1959, as da Escola Nacional de Saúde
Pública e MedicinaTropical, em 1968 [18].
Com a ascensão da República abandonou a carreira militar e
dedicou-se à atividade clínica. Em 1946, o rei Humberto II foi
expulso e Castellani, médico pessoal da família Savoia, acompa-
nhou-o ao exílio, em Portugal.
A escolha do Rei Humberto II (1904-1983) por Portugal, se-
ria natural, pois a relação dinástica Portugal/Itália remonta ao
casamento de D. Afonso Henriques com Mafalda (ou Matilde)
de Mouriana e Savoia (1130/1133-1158), em 1145. Não seria,
contudo, o desfecho mais desejado para o último rei de Itália,
Humberto II, após a morte de Carlos Alberto da Sardenha, no
Porto, em 1849 [19].Ainda assim, Humberto II tornou-se o úl-
timo protagonista de uma historia de relaçes de territorios e
soberanos com duraço multissecular.Viveu durante quase 40
anos com a rainha Maria José e os seus filhos, nos arredores de
Lisboa, em Cascais, como varios outros monarcas depostos do
seu tempo.
Castellani era um médico com créditos internacionalmente fir-
mados e foi acompanhando ao longo da vida, não só os sobera-
nos e os monarcas do seu tempo, como
também aqueles que nele procuravam
um saber de experiência feito no uni-
verso tropical, pelas diversas instituições
pelas quais passou no Ceilão, na Grã-
-Bretanha, em Itália, nos Estados Unidos
e em Portugal.
Foi membro de várias academias e so-
ciedades científicas, das quais se des-
tacam, a
Nazionale Accademia dei Lin-
cei
, a
Accademia dei Quaranta
(da qual
foi presidente entre 1930 e 1940),
da
Accademia Pontificia delle Scienze
, da
NewYork Academy of Sciences
, da
Ameri-
can Academy of Sciences
, da
Société Fran-
çaise de Dermatologie et Syphilographie
.
Foi ainda membro do
Royal College of
Physicians
e do
American College of Phy-
sician
e fundador da Sociedade Internacional de Dermato-
logia Tropical [17].
A sua carreira científica foi particularmente profícua. Publicou
mais de cinco centenas
2
de artigos científicos, em várias revistas
científicas em Itália, Inglaterra, Estados Unidos, França,Alema-
nha, Portugal, Espanha, Ceilão e India, maioritariamente escri-
tos em italiano e em inglês. Foi editor do
Journal of Tropical Me-
dicine & Hygiene
, de Londres, entre 1925 e 1940. Publicou ainda
vários manuais de ensino e monografias sobre a medicina e a clí-
nica tropical: o
Manual ofTropical Medicine
[20], o
Manuale di Cli-
nicaTropicale
[21],
Fungi and Fungal Diseases
[22], e ainda,
Tropical
Malattie dell’Africa
[23],
Little KnowTropical Diseases
[24],
Tropical
and Subtropical Dermatology
[25], e ainda a sua autobiografia, com
o título
A Doctor in Many Lands
, publicada nos Estados Unidos, e
Microbes,Men and Monarchs- a doctor’s life in many lands
, em Ingla-
terra.A edição inglesa teve várias edições entre 1960 e 1968, e
foi traduzida em italiano e em japonês, em 1970.
Embora em Portugal, o país escolhido pela família real italia-
na, Castellani sempre se manteve em rede com a comunidade
científica internacional, com a qual estabeleceu um contacto
muito estreito, e acima de tudo, primava pelo acompanhamen-
to próximo da família real italiana, espalhada pela Europa [26:
231-258].O Estado Novo não lhe era hostil, aliás em várias pas-
sagens da sua autobiografia, elogia António Salazar, com quem
privou em algumas ocasiões [27], o que lhe facilitou o conforto
de viver num país neutro e inerte aos seus interesses científicos,
médicos e políticos.Tudo indica que o trajeto de vida de Caste-
llani tenha permanecido encapsulado em Portugal por razões
políticas e não por afinidade com a escola portuguesa de medi-
cina tropical.
Fig. 1:
Fotografia deAldo Castellani s.d.
Fonte: EspólioAldo Castellani IHMT.
1 - Esta técnica de absorção de aglutininas tornou-se determinante para a bacteriologia,
para o estudo da constituição antigénica das bactérias,particularmente as
Enterobacteriacae
.
2 - Não foi possível aceder à lista completa das suas publicações e dado que os seus
biógrafos diferem nesta contagem, preferimos indicar apenas que, no conjunto, são
várias centenas.