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na sociedade! Contribuir para a formação social e humana
dos estudantes é tanto mais importante quanto as sociedades
africanas em que se inserem precisam de os atrair e fixar,
combatendo o "brain drain" e transformando-o em "brain
sharing".
Kofi Annan terminou a sua intervenção assinalando os
três pilares essenciais da sustentabilidade social: a paz e a
segurança, o desenvolvimento sustentável e o respeito pelos
direitos humanos.
Ao repetir, mais uma vez, que podem contar com a
NOVA nestes desafios do conhecimento ao serviço da
sustentabilidade social, faço-o com a coerência de um
percurso de trinta e cinco anos, entre 1980 e 2015, que
corresponde à integração do IHMT na Universidade NOVA
de Lisboa.
Ao longo desse tempo a NOVA assumiu a responsabilidade
de preservar a autonomia do IHMT e de o manter íntegro
como um instrumento essencial da cooperação portuguesa
nas áreas da medicina e da saúde pública, no espaço mundial
e com especial incidência nos países da CPLP.
A NOVA fez esta integração sem receber subsídios, nem
edifícios governamentais para divulgar uma lusofonia que
pratica todos os dias, a partir do IHMT como instituição que
lidera, há mais de um século, esta área tão importante dos
saberes tropicais. Antes pelo contrário, a NOVA tem de se
afirmar todos os dias, em Portugal, face a outras instituições
que se assumem tropicais e assiste, espantada e indignada,mas
atenta, à destruição de outros projetos, que sempre foram
tropicais, e portanto irmãos, para satisfazer ambições de
protagonismo pessoal ou de mero exibicionismo territorial.
Embora sabendo bem que, com o tempo, a verdade virá
ao de cima, a NOVA, lamenta a falta de visão do Governo
que permitiu, passivamente e por razões exclusivamente
economicistas, a destruição da identidade do Instituto de
Investigação Científica Tropical. Se tal tivesse acontecido,
há trinta e cinco anos atrás, o IHMT poderia ser hoje um
departamento da Faculdade de Ciências Médicas e o mesmo
poderia ter sucedido com a Escola Nacional de Saúde Pública,
alguns anos mais tarde. Sei muito bem do que falo porque
dei os primeiros passos no sentido correto, como diretor
desta instituição, entre 1983 e 1986, ou seja, no período
crítico da integração. Foi difícil mas a realidade atual mostra
que tivemos razão e que a coerência e a persistência ganham
sempre, no longo prazo, ao ziguezaguear do imediatismo e
ao flutuar das decisões circunstanciais.
É também por isso que quero afirmar, publicamente, que
durante os próximos dois anos do meu mandato isso nunca irá
suceder. A NOVA tem uma identidade, reconhecida nacional
e internacionalmente, que é mais do que a soma das suas
unidades orgânicas mas que privilegia a identidade de cada
uma. Esta estratégia corresponde a um plano que defendemos
e executamos com rigor e continuidade desde 2012.
É por tudo isto que termino com uma homenagem à
coerência e à persistência de um grande homem que nos
deixou há muito poucos dias. Refiro-me ao Professor José
Mariano Gago, o nosso único Ministro da Ciência, com
quem tive o privilégio de partilhar lutas universitárias bem
difíceis, sempre ao serviço de Portugal. Mariano Gago era
uma personalidade nacional e internacional singular, pela sua
inteligência, pela sua capacidade de trabalho, mas também
pela forma como liderava os projetos e, acima de tudo,
como acreditava e lutava por eles. Profundo conhecedor
da ciência e dos atuais cientistas portugueses, porque os
ajudou a crescer, foi também o grande promotor de uma
cultura científica nacional associada à cidadania, que também
criou, nas últimas décadas, em Portugal. Outros saberão,
melhor do que eu, prestar-lhe homenagem nesses campos.
A começar no Senhor Presidente do Conselho Geral que o
convidou para voltar da Suíça para Portugal e lhe confiou a
Presidência da JNICT, futura FCT.
No entanto, creio que posso, como poucos, recordá-lo
aqui como o meu Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior com quem tive o privilégio de trabalhar, durante
vários anos, na qualidade de Presidente do Conselho de
Reitores das Universidades Portuguesas. Também aqui se
deve a Mariano Gago uma verdadeira mudança de paradigma
no ensino superior representada pelo Regime Jurídico das
Instituições de Ensino Superior que, do meu ponto de vista,
permitiu às universidades portuguesas, ao contrário das
gregas, sobreviverem, nos últimos anos, ao maior atentado à
autonomia universitária desde o 25 de Abril.
A aproximação de Mariano Gago à realidade universitária, da
qual suspeitou durante muito tempo, deu-lhe a conhecer um
terreno onde ele, negociador habilíssimo, conseguiu sucessos
políticos notáveis como a passagem de três prestigiadas
universidades públicas a fundações públicas de direito
privado, estatuto que ainda se mantem na atualidade.
Creio que Mariano Gago só visitou uma vez o IHMT ao
longo do mandato mas sei bem como era sensível ao papel
desta instituição no espaço da CPLP onde ele também
intervinha com regularidade, por exemplo, na promoção da
qualificação de novos doutores.
Com a sua morte, precoce, Portugal perdeu um grande vulto
e muitos, nos quais me incluo, perderam um grande amigo.
A melhor forma de respeitarmos a sua memória é
continuarmos a fazer boa ciência, a formar bem os nossos
estudantes e a construir o futuro da sociedade portuguesa
com a coerência e com a perseverança de quem recomeça
todos os dias. Esse é, para mim, o principal desafio que ele
nos deixa.Vamos honrá-lo.
Desejo-vos um excelente Congresso.
(discurso proferido no dia 20 de Abril de 2015)
Sessão Solene