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Introdução

A mobilidade das populações tem vindo a aumentar. A re-

cente onda de emigração em Portugal veio desafiar e dar um

novo impulso à Medicina do Viajante. As pessoas deslocam-

-se à procura de trabalho, mas alguns destinos têm implica-

ções específicas para a sua saúde. Esta situação veio acentuar

pressão sobre a necessidade de resposta em termos de con-

sultas pré-viagem, mas também em termos de diagnóstico

e tratamento corretos e atempados de doenças menos fre-

quentemente diagnosticadas em Portugal [1]. Os migrantes

em geral (os que partem e os que chegam) colocam desafios

importantes em termos de necessidades de prestação de cui-

dados, de disponibilidade de testes de diagnóstico e medica-

mentos adequados, assim como de formação dos profissio-

nais e de investigação que enquadre as ações a desenvolver

[2, 3, 4].

A prática da Medicina do Viajante em Portugal nunca foi

enquadrada pelas estruturas de saúde governamentais ou de

classe. Antes da revolução de 25 Abril de 1974, muitos dos

que partiam para as colónias portuguesas eram vacinados e

estavam presentes em sessões de ensinamentos sobre cuida-

dos de saúde a ter na região de destino, que decorriam no

Instituto de Higiene e MedicinaTropical (IHMT).

Mas a Medicina do viajante, tal como a conhecemos agora,

começou a despontar em finais dos anos noventa do século

passado. À data existiam duas consultas, no Hospital Egas

Moniz em Lisboa (a mais antiga) e no Hospital Central da

Universidade de Coimbra. Posteriormente surgiram as con-

sultas do IHMT, dos Centros deVacinação Internacional das

Administrações Regionais de Saúde, da Faculdade de Ciên-

cias Médicas em Lisboa, do Hospital de D. Estefânia e, na

última década, a maioria dos hospitais centrais e muitos

Agrupamento de Centros de Saúde (ACES), de todas as re-

giões, têm a sua consulta de Medicina doViajante.Todo este

aparecimento de locais de consulta constituía, no entanto,

atitudes isoladas das estruturas de acolhimento (de saúde ou

académicas), sem que existisse qualquer regulamentação da

sua prática. Já em 1999, Saraiva da Cunha referia que no

nosso país não tinham sido emanadas pelas entidades oficiais

quaisquer diretrizes, talvez por a Medicina do Viajante não

ter sido considerada uma prioridade no Serviço Nacional de

Saúde [5].

Em Junho de 2002 ocorreu a primeira tentativa de aproxi-

mar profissionais e a sua prática: uma reunião de consenso,

na Figueira da Foz, sobre administração de vacinas (vacina

contra a febre amarela, vacina anti meningocócica e vacinas

contra hepatite A e hepatite B) [6]. Em Março de 2003, em

Lisboa, acontece uma reunião de consenso sobre prescrição

de quimioprofilaxia da malária. Desde essa altura, toda a for-

mação e atualização dos médicos e outros profissionais envol-

vidos na Medicina doViajante é restrita a cursos de formação

anuais oferecidos por entidades ligadas ao ensino (IHMT, o

mais antigo curso de Medicina do Viajante, e, nos últimos

anos, o Hospital de S. João – Faculdade de Medicina do Por-

to), ou cursos eventuais, de curta duração, organizados lo-

calmente pelas entidades que supervisionam as consultas. A

Medicina doViajante é, igualmente, esporadicamente falada

e discutida em congressos e

workshops

das áreas da Infeciolo-

gia, da MedicinaTropical e da Saúde Pública. Recentemente,

a Ordem dos Médicos tem estado a conduzir um processo de

consulta sobre as condições de obtenção da competência em

Medicina doViajante.

Workshop Internacional de Medicina

doViajante no Instituto de Higiene

e MedicinaTropical

Neste espírito de partilha e discussão de temas importantes

da prática da Medicina doViajante, teve lugar em 29 de no-

vembro de 2014, no IHMT, em Lisboa, um workshop sobre

Medicina doViajante.

Tomou-se a iniciativa de procurar reunir representantes das

consultas com mais experiência e número de utentes (em

termos nacionais ou regionais) para uma reflexão de como

melhorar a prática da Medicina do Viajante (reunião de dia

4 de outubro de 2014, onde ficou decidido avançar para a

criação de uma Sociedade) e organizar um workshop de Me-

dicina doViajante no dia 29 de novembro de 2014.

O workshop de dia 29 de novembro reuniu especialistas na-

cionais e internacionais para:

Apresentar a prática da Medicina do Viajante em Portu-

gal;

Apresentar experiências de centros europeus e nacionais

na formação, prática e investigação em Medicina do Viajan-

te;

Debater os desafios e perspetivas de desenvolvimento da

consulta do viajante em Portugal, nomeadamente a forma-

ção teórica e prática, a articulação inter-centros e a investi-

gação da medicina das viagens;

Debater algumas áreas temáticas no âmbito da medicina

das viagens (nomeadamente profilaxia da malária e diarreia

do viajante).

As comunicações

Foi feita uma apresentação de dois centros europeus: o

Departamento de Investigação Clínica da

London School

of Hygiene and Tropical Medicine

(Ron Behrens) e Centro

de Doenças Tropicais, Hospital

Sacro Cuore

,Verona (Zeno

Bisoffi). Nestas duas apresentações os palestrantes des-

creveram a atividade dos centros em termos de prestação

de cuidados de saúde, de ensino/formação e investiga-

ção, assim com a sua participação em redes, nomeada-

Formação