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Introdução
Muitos agentes infeciosos, identificados como patogéneos
para os humanos, circulam em vários indivíduos sem causar
sintomas aparentes – indivíduos assintomáticos, que são na
verdade um reservatório importante da infeção – enquan-
to noutros levam a desenlaces graves ou letais, sendo isto
comum às infeções virais (ex.: herpes, hepatite, rotavírus),
bacterianas (ex.: tuberculose, estafilococos) e parasitárias
(ex.: doença de Chagas, leishmaniose, toxoplasmose, malá-
ria).
O progresso científico nas áreas da genética, genómica e ou-
tras “ómicas” e a capacidade de sequenciar genomas com-
pletos a custos competitivos revolucionaram os cuidados de
saúde, abrindo as vias a uma medicina mais personalizada ou
precisa em que a prevenção, o diagnóstico e a terapêutica po-
derão ser disponibilizados à pessoa certa no momento cer-
to. Indo ainda mais longe, a combinação de perfis biológicos
com perfis de exposição individuais terá o potencial de criar
impacto em termos de saúde pública.
As conferências
Após a abertura e a mensagem de BoasVindas proferida por
Henrique Silveira, coordenador do CMDT, deu-se início à
primeira conferência, na área das doenças bacterianas focan-
do a tuberculose (TB) como uma doença inflamatória (
TB as
an inflammatory disease: new strategies on balancing the host’s res-
ponse
).
Pere-Joan Cardona
, Diretor da
Unitat deTuberculosi
Experimental, Institut Germans Trias i Pujol, Badalona,
Espanha,
discutiu a integração de novos conceitos, disciplinas e abor-
dagens para compreender, quer a infeção por
Mycobacterium
tuberculosis
, quer a doença ativa (tuberculose).
De seguida, a segunda conferência versou sobre uma para-
sitose, tendo
Nadia Ponts
, atualmente no
INRA Centre de
Bordeaux Aquitaine,Villenave d’Ornon
, França e antes na
Univer-
sity of California Riverside
no
Leroch Lab
, colocado e discutido a
questão se a medicina personalizada poderá ser um caminho
futuro no tratamento de um dos principais problemas de saú-
de pública no mundo, a malária (
Future personalized medicine
for malaria?
). Na verdade, é uma possibilidade especialmente
na área do diagnóstico que se tem desenvolvido imenso nas
últimas décadas com testes preditivos como os Testes Rápi-
dos de Diagnóstico. Adicionalmente, as especificidades ge-
nómicas regionais de determinadas populações hospedeiras
e grupos étnicos estão a ser extensivamente analisadas pelo
MalariaGEN (
Genomic Epidemiology Network
).
O primeiro dia foi encerrado com a palestra de
Pedro Pita
Barros
,
Nova School of Business and Economics
, Universidade
NOVA de Lisboa, Portugal, que discutiu os desafios que a
medicina personalizada poderá trazer aos sistemas de saúde
(
Challenges of personalised medicine to health systems
). O foco
será na utilização de informação genética e testes de diag-
nóstico baseados em biomarcardores para definir as opções
terapêuticas mas do ponto de vista da economia, existem
vários desafios óbvios à organização dos sistemas de saúde
tais como regulação, resolução de problemas de proprieda-
de intelectual, definição de políticas de pagamento, decisões
de inclusão na cobertura dos sistemas de saúde ou questões
relacionadas com a privacidade dos doentes. Além disso, é
possível identificar outros desafios não tão óbvios - como
muda o valor da informação, como é que a informação in-
terage com o papel do doente no sistema de saúde, como é
que a informação influencia o próprio desenho do sistema de
saúde? Conclui-se assim que há pois, diversas formas pelas
quais a medicina personalizada cria desafios aos sistemas de
saúde - pela definição de valor e de benefícios de interven-
ções, decisões dos doentes, incentivos à investigação e desen-
volvimento de novas tecnologias neste campo, equilíbrio de
mercado para seguros de saúde, impacto nos custos agrega-
dos dos sistemas de saúde, e questões legais e regulatórias.
O segundo dia iniciou-se com a palestra de
Saskia L. Smits
,
Erasmus Medical Center, Department of Viroscience
,
Roterdam
,
Holanda, sobre como as novas tecnologias de sequenciação
estão a ser presentemente utilizadas para otimizar a identi-
ficação de vírus (
Metagenomics approach to virus discovery
). O
Virus Discovery Program
em curso no
Viroscience Lab,
explora
sistematicamente (novos) vírus que infetam humanos e ani-
mais, o que é o primeiro passo para enfrentar novas e emer-
gentes doenças infeciosas, nomeadamente viroses.
A conferência seguinte, proferida por
Vera Marques
,
The
Pharmacogenomics and Molecular Toxicology Laboratory, Center
for Biomedical Research
, Universidade do Algarve, Portugal,
demonstrou como a variabilidade individual e os polimor-
fismos genéticos podem influenciar o risco de desenvolver
doença e/ou de toxicidade ou eficácia e sucesso de uma te-
rapêutica (
Pharmacogenetics – from genes to therapeutics
) e como
poderemos obviar e enfrentar essa realidade.
Por fim, na última conferência (
Omics, personalized medicine
and public health: the host pathogen-interaction at the interface of
science, law and ethics
),
João V. Cordeiro
, Escola Nacional
de Saúde Pública, Universidade NOVA de Lisboa, Portugal,
reviu os avanços na biomedicina na área da medicina perso-
nalizada e as tendências atuais e futuras mais relevantes para
a saúde pública, nomeadamente os Projetos do Genoma e do
Microbioma Humanos como dos maiores projetos biomédi-
cos de larga escala e das maiores ferramentas para a luta con-
tra as doenças infeciosas, incluindo áreas como a vacinómica
e farmamicrobiómica. Em paralelo, o progresso científico
na área da medicina personalizada também levantou desafios
importantes para os paradigmas clássicos na lei e na ética
biomédica. Assim na segunda parte da conferência foram
abordadas as implicações de uma medicina personalizada no
contexto da interação hospedeiro-patogéneo – aspetos como
consentimento informado, privacidade e confidencialidade,
propriedade dos espécimenes e resultados, benefício par-
tilhado, estigmatização e descriminação, merecem especial
atenção neste contexto.
Formação