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A n a i s d o I HM T
plementar a abordagem histórica que alguns docentes fazem
nas unidades curriculares de especialização naqueles domí-
nios, ao contribuir para uma formação especializada em his-
tória da medicina tropical, lecionada por docentes que são
simultaneamente investigadores em cada um dos tópicos
propostos do programa. Esta particularidade de formação
do corpo académico permitirá tornar esta formação mais
competitiva no circuito universitário (consulte-se a ficha da
unidade curricular no IHMT), para a qual concorre ainda a
possibilidade da sua realização em rede, ao fazer uso daWEB
2.0 como suporte da atividade letiva em tempo real para
formadores e formandos.
Conteúdos programáticos
Este curso pretendeu abordar os principais temas da História
da Medicina Tropical contextualizando a medicina tropical,
como área de ensino, investigação e clínica, numa perspetiva
interdisciplinar global, promovendo uma reflexão sobre a
emergência, consolidação e institucionalização desta área,
entre os séculos XIX e XX, em diferentes contextos históricos,
científicos, culturais e políticos.
Os temas selecionados centraram-se na análise de alguns
momentos chave para a identificação da construção de
uma entidade disciplinar autónoma e de uma comunidade
científica especializada ao longo de tempo, a sua inter-relação
(particularmente com o contexto europeu e americano), com a
história institucional, bemcomo comas condições específicas do
todo social envolvente, nomeadamente nos planos económico e
político.
O primeiro conjunto de tópicos pretendeu contextualizar
duas abordagens complementares da emergência da história da
medicina tropical que se individualizam de forma particular, na
história de dois países diferentes, Portugal e Brasil [1].
A medicina tropical como área de investigação e de ensino
especializado surgiu na Europa, na transição do século XIX para
o século XX, associada à agenda imperialista dos países europeus
[2], que após a Conferência de Berlim encetaram em África
(espartilhada entre as cinco potências europeias) um programa
de controlo de epidemias e doenças necessárias à efetiva
colonização do território [3,4].A mundividência europeia [5], a
“domesticação” dos espaços colonizados e suas agendas, bem as
hierarquias dos espaços comuns, na interface da construção do
conhecimento científico e técnico [6], fornecem ferramentas
de análise para o enquadramento de países como Portugal
[7], neste circuito de circulação e construção de conhecimento
pericial, assentes na relação entre a medicina e o Império [8,9].
A construção das narrativas do conhecimento médico nos
séculos XVII, XVIII e XIX, provenientes da História Natural
[10] permitem enquadrar o papel dos viajantes e exploradores
das zonas tropicais, centralizando os conceitos de “trópicos”
e “tropicalidade” no surgimento da medicina tropical no
século XIX [11, 12]. Associam-se assim ao exercício prática
clinica (da medicina hipocrática à medicina anatomo-clinica)
estabelecendo a transição entre a medicina dos “climas quentes”
[13] e a medicina laboratorial de pendor bacteriológico [14] e
mansoniano, muitas vezes sob a forma de palimpsesto.
Com base nesta grelha de análise, que permite definir a
emergência da medicina tropical em diferentes momentos,
contextos, espaços e realidades, fará sentido apresentar os
resultados da investigação histórica que olha de forma particular
para a institucionalização da medicina tropical portuguesa
e brasileira. Surgiu assim o segundo conjunto de temas que
enquadra a problematização da fundação das instituições
pioneiras de ensino e investigação entre os séculos XIX e XX,
cruzando os interesses da profissionalização médica.
Amedicina tropical portuguesa seguiu de perto a agenda médica
europeia entre 1901 e 1966 [15], como forma de garantir a
Fig. 3
– Identificação dos elementos centrais na análise da emergência da
medicina tropical partindo duma grelha interdisciplinar de análise
Fig. 4
–Trajectos da história da medicina tropical em Portugal (1902-1966)