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História
Equacionou-se a abertura de sa-
natórios para receber os soldados
do Corpo Expedicionário Português
(CEP). Assim sucedeu com o sanatório
da Gelfa, emVila Praia de Âncora, que desde 1909 sofria
com avanços e impedimentos, embora só abrisse efeti-
vamente vinte anos depois, em 1929. É hoje um centro
psiquiátrico entregue à Ordem de S. João de Deus.
Evocação da tuberculose
na I Grande Guerra
A par destas dificuldades, fazem-se campanhas de edu-
cação das regras alimentares e de normas de higiene,
como a utilização de escarradeiras para uso coletivo e
individual, que se tornam até obrigatórias em alguns
edifícios públicos.
Tudo isto representa um esforço económico que os
peditórios, as vinhetas filatélicas e outras iniciativas de
filantropia apoiam, buscando fundos para suportar o
combate à tuberculose.
O pneumotorax e a antibioterapia
Enquanto se aguardava pela chegada dos antibióticos, en-
saiaram-se outros métodos de tratamento. Entre eles, o
mais divulgado, talvez o mais dramático, foi o pneumotó-
rax, uma ideia inicial de Forlanini (1847-1918) em 1882 e
Murphy (1857-1916) em 1896, que se generalizou como
tratamento para a tuberculose na segunda década do século
XX, na tentativa de, com o colapso do pulmão, se aniquilar
a bactéria por asfixia e promover a cicatrização mais rápida
das cavernas pulmonares. Outras cirurgias torácicas foram
igualmente praticadas, lobectomias e pneumectomias.
Finalmente, em 1944, surge o primeiro antibiótico eficaz
para combater o bacilo da tuberculose, a estreptomicina.
Seguem-se-lhe o PAS, a isoniazida e a pirazinamida. Com
eles a morbilidade da doença começa a reverter.
Porém, em breve aparecerão resistências e um novo alar-
me se reacenderá, sobretudo acompanhado do apareci-
mento da epidemia da SIDA.
Em 1993, a Organização Mundial de Saúde declara a tu-
berculose como uma “emergência global”, reativando o
receio de que os antibióticos e o afrouxar da vigilância a
tinham votado ao esquecimento.
A vacina do BCG, que em Portugal se iniciou em 1928, e
a medicação antibiótica levaram também ao decréscimo
da tuberculose. Em 1945, a ANT passa a ter a designa-
ção de Instituto de Assistência Nacional aosTuberculosos
(IANT) e, em 1975, passa a Serviço de Luta Anti-Tuber-
culose (SLAT).
Das cerca de 400 mortes por tuberculose/ano, em cada
100.000 habitantes, no início do século XX, o número
baixara para metade na década de 1930. Pelos anos 50,
a mortalidade anual devido à tuberculose era, em Portu-
gal, ainda superior aos 100 óbitos/100.000 habitantes e
a meio da década de 70 rondava os 10 mortos/100.000
habitantes/ano.
Em meados de 1950, abriram os dois últimos sanatórios
em Portugal: no Barro,TorresVedras, em 1956, e emVa-
longo, em 1958. Mas, poucos anos depois, privilegia-se
já o tratamento da tuberculose em regime ambulatório,
o que acelera a decadência dos sanatórios. Muitos serão
deixados ao abandono, alguns readaptados a outros ser-
viços de saúde, outros reconvertidos.Alguns deles foram
já classificados como de interesse patrimonial, todavia, a
sua história, as especificidades próprias da sua arquitetu-
ra e as funções que desempenharam merecem sempre a
nossa reflexão.
Fig.15 -
Ruínas do Sanatório Albergaria no Cabeço de Montachique
(Fotografia de J.M. Couto Duarte, 2017).
Nós, que vimos passar esses tristes comboios de sol-
dados tuberculosos que se repatriavam, não pudemos
esquecer nunca os seus olhos sem esperança. Enquan-
to que os amputados riam e cantavam, com toda a
alegria do regresso, aqueles pareciam dizer-nos: - Eu
sei bem que vou morrer!
Para estes que pagavam de um modo tão cruel o
cumprimento do dever, e que arriscavam pagar tam-
bém com a saúde dos seus filhos, não se fará nunca o
bastante…
Fig.16 -
Prato “Choisy le Roy”,
evocativo da 1ª Grande Guerra
(coleção JLD).
Fig.17 -
Noelle Roger,jornalista na 1ª Grande Guerra, 1918.