95
A n a i s d o I HM T
objeto de vários alertas nas Cortes. Em 1899, é criada a
Liga Nacional Contra a Tuberculose, por Miguel Bom-
barda (1851-1910), no seio da Sociedade de Ciências
Médicas de Lisboa. Do mesmo ano é a fundação daAssis-
tência Nacional aosTuberculosos (ANT), pela Rainha D.ª
Amélia, tendo como primeiro secretário-geral o médico
D.António de Lencastre.
A Liga e a ANT empenharam-se profundamente na di-
vulgação da doença, na sua profilaxia e no tratamento.
Cartazes, folhetos e artigos na imprensa alertam para a
doença. Destinam-se hospitais para recolher os doentes
infetados. Fundam-se sanatórios, preventórios e dispen-
sários para a vigilância e o tratamento da tuberculose.
Em Lisboa abriu, em 1898, o Hospital Rainha D.ªAmélia,
depois hospital de Arroios, para receber os tuberculosos
internados nos Hospitais de S. José e Anexos. Mais tar-
de, em 1906, inaugurou-se o Hospital Curry Cabral, no
Rego. Nesse mesmo ano, abre a sede da ANT, o Instituto
Rainha D.ª Amélia, perto do Cais do Sodré, inaugurado
com a presença dos médicos que vieram a Lisboa para o
XV Congresso Internacional de Medicina. Segue-se em
1910 o Hospital do Repouso D. Carlos I, no Lumiar (atual
Hospital PulidoValente) e o Hospital D.Manuel II, no Por-
to (presentemente do CHVN Gaia/Espinho), que, como
o do Lumiar, teve por objetivo internar doentes em fase
inicial.
Um primeiro dispensário da luta contra a tuberculo-
se instala-se provisoriamente na rua do Alecrim n.º 22,
em Lisboa, para fornecer consultas, vigilância, profila-
xia e medicamentos aos pobres. Outros se seguirão por
todo o país, pela iniciativa da ANT e, mais tarde, do Ins-
tituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos, que lhe
sucedeu (1945), ou ainda por contributos regionais. O
arquiteto Raúl Lino colabora nalguns desses projetos
iniciais. Já com Fausto Lopo de Carvalho na direção da
ANT (1931), é o arquiteto Carlos Ramos quem vence o
concurso, de 1934, para os projetos tipo de dispensários
distritais e concelhios. Muitos destes dispensários estão
ainda em funcionamento e ligados aos cuidados de Saú-
de Pública, nomeadamente mantendo a vigilância sobre
a tuberculose.
Logo após a fundação da ANT, o forte de Santiago do
Outão, em Setúbal, com origens no reinado de D. João
I e destinado desde 1890 para residência de veraneio da
casa real, é cedido pela Rainha D.ª Amélia para sanatório
marítimo, em 1900, dirigido às crianças do sexo femi-
nino
3
, hoje é um hospital ortopédico. Em Carcavelos, o
forte do Junqueiro, de 1645, que integrara o conjunto de
“fortificações das Linhas de Torres”, acolhe as crianças do
sexo masculino em 1902, e transformar-se-á no Sanatório
Dr. José deAlmeida, atualmente desativado.
De responsabilidade daANT, com projeto inicial de Raúl
Lino, constrói-se de raíz um primeiro sanatório de altitu-
de, na Guarda, batizado com o nome de Sousa Martins,
3- Presentemente o forte de Santiago do Outão, em Setúbal, continua como Hos-
pital Ortopédico integrado no Centro Hospitalar de Setúbal.
com os primeiros doentes internados em 1907.
Alguns dos sanatórios nascem por iniciativas particula-
res ou institucionais. São exemplos icónicos: o Sanatório
de Sant’Ana – Parede, em 1904, com desenho de Ro-
sendo Carvalheira e uma extraordinária riqueza artís-
tica ornamental, um legado do casal Biester cumprido
pela herdeira Claudina Chamiço (é hoje um Hospital
da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, perfeitamente
conservado, sem deixar de manter funções em prol da
saúde); a Estância Sanatorial do Caramulo, fundada em
1920 pelo médico Jaime de Lacerda, onde, durante a pri-
meira metade do século XX, muitos dos pneumologistas
portugueses vão estudar a doença e o seu tratamento (o
complexo está hoje desagregado, em parte reconvertido,
nomeadamente em hotéis, uma outra parte “esquecida”);
os sanatórios dos ferroviários surgem por impulso deVas-
concelos Porto, o primeiro em São Brás de Alportel, de
1918 (é, desde 1991, o Centro de Medicina de Reabili-
tação do Sul), ou o das Penhas da Saúde, um projeto de
CotinelliTelmo, que agora, pela mão de Souto de Moura,
deu lugar a um hotel depois de um desastroso período de
abandono; o conjunto de Valadares, do médico Ferreira
Alves, com o sanatório de Francelos em 1917 e a Clinica
Heliântia em 1930 (que é atualmente a Escola Superior
de Negócios Atlântica). Em Coimbra, Bissaya Barreto
converte em sanatórios o convento de Celas, em 1932,
fundado em 1219 por D.ª Sancha (filha de D. Sancho I),
que em 1932 é adaptado pelo arquiteto Luís Benavente
e, em 1935, o Asilo-Escola que fora instituído nos Co-
vões pela Colónia Portuguesa no Brasil/Comissão Pró-
-Pátria.
Dispensários e sanatórios
Todo o historial da construção dos sanatórios foi longo e
repleto de percalços, emmuito como resultado das crises
económicas e políticas que o país atravessou. Alguns não
chegaram a ser concluídos, como o Sanatório Albergaria
do Cabeço de Montachique, patrocinado por Francisco
Grandella e pela Sociedade dos Makavenkos, igualmente
um projeto de Rosendo Carvalheira, agora votado a um
impasse e total abandono.
A queda da Monarquia e, logo depois, a I Grande Guer-
ra perturbaram o programa e o funcionamento da ANT
para debelar a epidemia. A Guerra, com a permanência
dos militares nos espaços exíguos das trincheiras, aumen-
tou dramaticamente o número de tuberculosos.A Portu-
gal regressaram mais de 5000 soldados infetados.