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História
CESÁRIO VERDE
(morreu de tuberculose aos 31 anos)
Nós (excerto)
Tínhamos nós voltado à capital maldita,
Eu vinha de polir isto tranquilamente,
Quando nos sucedeu uma cruel desdita,
Pois um de nós caiu, de súbito, doente.
Uma tuberculose abria-lhe cavernas!
Dá-me rebate ainda o seu tossir profundo!
E eu sempre lembrarei, triste, as palavras ternas,
Com que se despediu de todos e do mundo!
Pobre rapaz robusto e cheio de futuro!
Não sei dum infortúnio imenso como o seu!
Vi o seu fim chegar como um medonho muro,
E, sem querer, aflito e atónito, morreu! …
ANTÓNIO NOBRE
(morreu de tuberculose aos 33 anos)
Antes de Partir
Vários Poetas vieram á Madeira
(Pela fama que tem) a ares do Mar:
Uns p'ra, breve, voltarem á lareira,
Outros, ai d'eles! para aqui ficar.
Esta ilha é Portugal, mesma é a bandeira,
Morrer n'esta ilha não deve custar,
Mas para mim sempre é terra estrangeira,
Á minha pátria quero, enfim, voltar.
Ilhas amadas! Ceu cheio de luas!
Ah como é triste andar por essas ruas,
Pálido, de olhos grandes, a tossir!
Eu vou-me embora, adeus! mas volto a vê-las,
Vou com as ondas, voltarei com elas,
Mas como elas p'ra tornar a ir!
Ilha da Madeira, (1899)
CAMILO PESSANHA
(morreu com tuberculose aos 58 anos. Opiómano)
Poema Final
Ó cores virtuais que jazeis subterrâneas,
Fulgurações azuis, vermelhos de hemoptise,
Represados clarões, cromáticas vesânias,
No limbo onde esperais a luz que vos batize,
As pálpebras cerrai, ansiosas não veleis.
Abortos que pendeis as frontes cor de cidra,
Tão graves de cismar, nos bocais dos museus,
E escutando o correr da água na clepsidra,
Vagamente sorris, resignados e ateus,
Cessai de cogitar, o abismo não sondeis.
Gemebundo arrulhar dos sonhos não sonhados,
Que toda a noite errais, doces almas penando,
E as asas lacerais na aresta dos telhados,
E no vento expirais em um queixume brando,
Adormecei. Não suspireis. Não respireis.
MANUEL BANDEIRA
(tuberculoso desde os 18 anos)
Poema Final
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos,
A vida inteira que poderia ter sido e não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico.
Diga trinta e três.
Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
Respire
O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo
E o pulmão direito infiltrado.
Então doutor, não é possível tentar
o pneumotórax?
Não. A única coisa a fazer é tocar um
tango argentino.
Fig.10 -
Poemas evocando a tuberculose da autoria de Cesário Verde, António Nobre, Camilo Pessanha e Manuel Bandeira.