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Editorial

domínio biológico, como também do imperativo imperialis-

ta que conduziu as políticas externas das potências europeias

para a colonização de novos territórios de clima temperado,

e, como consequência, as políticas de saúde. Estas terão sido

as variáveis determinantes para o advento da medicina tro-

pical como área disciplinar autónoma, na Europa, e como

consequência, em Portugal.

Ao contrário, no Brasil, que foi palco de um percurso histó-

rico diferenciado no continente americano, a medicina tro-

pical é reclamada como uma área disciplinar objetivada pelo

concurso da aproximação microbiológica e parasitária no

século XIX, sem que para o efeito tivesse necessariamente

concorrido uma agenda imperialista. Daí que o 1º encontro

procurasse estabelecer um diálogo entre medicina tropical

nos espaços nacionais, coloniais e pós-coloniais.

De uma forma ou de outra, importa clarificar que à história

da medicina tropical, quando entendida na sua matriz cientí-

fica, diz respeito uma abordagem que será necessariamente

diferente se provier da história, da sociologia ou da antropo-

logia. Nesse sentido, o espaço de encontro de historiadores

portugueses e brasileiros, entre 2012 e 2015, com o objeti-

vo de criar uma tradição de intercâmbio de conhecimentos,

saberes e práticas de influência interdisciplinar, catapultou

a realização do 2º encontro centrado na história da medi-

cina tropical, na sua interface com a saúde global, uma vez

que, na historiografia da medicina tropical prevalecem ainda,

por um lado, as contribuições alusivas a países como a Grã-

-Bretanha, França, Alemanha e Estados Unidos, e as regiões

sob seu domínio, em particular as que se referem ao império

britânico, e, por outro, uma historiografia maioritariamente

dirigida para o período anterior à IIª Guerra Mundial.

Porquê um 2º Encontro Luso-Brasileiro

de História da MedicinaTropical em

2015 para privilegiar contribuições no

contexto do pós-guerra?

As análises históricas sobre a saúde internacional no pós-

-Guerra, na perspetiva da saúde global, continuam hoje a

dar prioridade aos programas de erradicação de grandes epi-

demias como a malária, ressaltando o caráter vertical desses

programas assim como as ideias e estratégias adotadas por

pequenos grupos encastelados nas Nações Unidas, na Orga-

nização Mundial de Saúde e em Estados com influência so-

bre estas agências internacionais. Estudos recentes apontam

para um quadro mais complexo, que envolve a presença de

outras doenças tropicais nas agendas nacionais e internacio-

nais, associadas a diferentes redes de

expertise

, colaboração

técnico-científica e a diferentes

clusters

de atores e interesses

sociais, que importa convocar também para o universo lu-

sófono, promovendo assim uma reflexão alargada sobre o

lugar da medicina tropical nas agendas do pós-guerra, tanto

nos impérios pós-coloniais, como nas nações constituídas ou

reconstituídas no pós-guerra.

Este encontro foi presidido por Isabel Amaral (por Portugal)

e por Jaime Larry Benchimol (pelo Brasil), teve a presen-

ça de cerca de 100 investigadores provenientes dos Estados

Unidos, de Trinidad e Tobago, do México, do Brasil, da Ale-

manha, da Suíça, de França e de Portugal. Os temas discu-

tidos foram distribuídos pelas quatro áreas temáticas que se

seguem:

1.

Atores, agentes patogénicos, doenças (com des-

taque para a lepra) instituições e visões da medicina

tropical;

2.

Políticas e redes internacionais de saúde pública

no século XX;

3.

Medicina tropical e ambiente;

4.

Arquivos e museus – documentação e coleções.

Fizeramparte da organização deste evento o Centro Interuni-

versitário de História da Ciência e daTecnologia (CIUHCT),

a Faculdade de Ciências eTecnologia e o Instituto de Higiene

e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, (FCT

e IHMT/UNL), a Casa de Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro,

a Universidade deYork (UY), e ainda, a Fundação Friedrich

Ebert, como principal patrocinador. Foram constituídas três

comissões: uma comissão de honra, uma comissão organiza-

dora e uma comissão científica. A comissão de honra inte-

grou Paulo Gadelha, Nísia Trindade Lima, Marcos Cueto, e

Mitermayer G. Reis (Fundação Oswaldo Cruz, FIOCRUZ);

Fernando Santana (FCT), Maria Paula Diogo e Ana Isabel

Simões (CIUHCT), Paulo Ferrinho (IHMT/UNL) e Sanjoy

Bhattacharya (Universidade deYork). Da comissão organiza-

dora fizeram parte: Isabel Amaral e Ana Carneiro (CIUHCT,

FCT-UNL), Zulmira Hartz, Jorge Seixas, José Luís Doria e

Philip Havik (IHMT), Jaime L. Benchimol e Magali Rome-

ro Sá (Casa de Oswaldo Cruz) e Sanjoy Bhattacharya (UY).

Da comissão científica fizeram parte: Isabel Amaral, Ana

Carneiro e Ana Rita Lobo (CIUHCT), Ana Cristina Roque

(IICT), Jaime Benchimol, Magali Romero Sá, André Felipe

Cândido da Silva, Marcos Cueto, Sílvio Marcus de Souza

Correa, Simone Kropft, Gilberto Hofman e Tânia Salgado

Pimenta (FIOCRUZ), Nelson Sanjad (Museu Paraense Emi-

lio Goeldi, Belém-Brasil), Sandra Caponi (Universidade Fe-

deral de Santa Catarina), André Mota (universidade Federal

de S. Paulo), João Rui Pita e Luís Costa (Universidade de

Coimbra), Amélia Ricon-Ferraz (Universidade do Porto),

Philip Havik (IHMT), Cristiana Bastos (Instituto de Ciências

Sociais/Universidade de Lisboa), Debbie McCollin (Univer-

sidade de Trinidad e Tobago), Henrice Altink, Monica Saa-

vedra e Sanjoy Battacharya (Universidade deYork), e Stefan

Wulf (Universidade de Hamburgo).Veja-se programa publi-

cado nesta edição dos Anais.

Os trabalhos apresentados neste encontro, grande parte

deles ainda voltados para uma historiografia anterior à IIª

Guerra Mundial, permitiram ainda identificar os circuitos de