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A lepra no estado do Espírito Santo (1930-1943): a cons-
trução do Leprosário Colónia de Itanhenga
é uma contri-
buição de Luiz Barros, que uma vez mais reflete o combate à
hanseníase no Brasil, desta feita no estado de Espírito Santo,
numa perspetiva de reflexão sobre os ditames das adapta-
ções de espaço arquitetónico e de cuidados de saúde e de
isolamento, em função da ordem política e ideológica que
privilegiava a centralização de medidas para o combate ao
avanço epidémico da doença do país.
Keila Carvalho, em
De doença end
é
mica a flagelo nacio-
nal – a medicalização da lepra no Brasil (1920-1940)
,
faz uma reflexão sobre o combate à doença no Brasil no
século XX, analisando a forma como as determinações das
conferências internacionais sobre a lepra tiveram impacto no
país, que transitou de um “problema ignorado e abandonado”
pelo Estado a “flagelo nacional”, entre 1920 a 1940, resul-
tando de negociações sociais dentro da própria comunidade
científica. Partindo da forma como a escolha das medidas
profiláticas era feita para controlar a doença, a autora procu-
ra refletir sobre os diferentes significados que foram sendo
atribuídos à lepra, no contexto brasileiro, ao longo do perío-
do em estudo.
Lilian Souza analisa no seu artigo intitulado
Órfãos da saú-
de pública: vozes da infância da lepra no Brasil
, com
base em elementos de história oral e de pesquisa documen-
tal, o impacto da sociabilização ou re-sociabilização dos fi-
lhos de pais portadores de doença. No Brasil, nas primeiras
décadas do século XX, a assistência à infância ocupava uma
posição cimeira, como baluarte da modernização nacional
que legitimaria a saúde pública para uma intervenção coer-
civa e disciplinadora, na qual estes órfãos de pais com lepra
se situavam.
Luís Costa, no seu artigo sobre a
Leprosaria de Cumura:
história, etnografia e fotografia – interceções
, preten-
de refletir sobre o território e o confinamento dos doentes
portadores de lepra na Guiné portuguesa, após a IIª Guerra
Mundial, numa narrativa que cruza elementos históricos com
elementos etnográficos, e que são ilustrados pelo elemento
pictórico, indicadores da evolução daquela instituição, dos
doentes e dos seus cuidadores religiosos, no contexto das
políticas de saúde integradas no ideário da ocupação colonial
portuguesa, em África.
2.
Políticas e redes internacionais
de saúde pública no século XX
No artigo sobre
O projeto anti-tifo da Fundação Ro-
ckefeller em Espanha: uma lição de insucesso
,
Darwin
H. Stapleton discute o sucesso da Fundação Rockefeller
na abordagem às doenças infeciosas epidémicas, como da
mobilidade dos refugiados após a Iª Guerra, entre 1920
e 1930. Analisa o projeto que a Fundação desenvolveu e
apoiou em Espanha, durante uma epidemia de tifo, após o
término da guerra civil espanhola, procurando respostas
no âmbito da etiologia e da prevenção da doença com re-
curso à vacinação que, sem sucesso, conduziram à escolha
do DDT como o meio mais eficaz de combate não para o
tifo como também para a malária.
Denis G. Jogas Junior, em
A Leishmaniose Tegumentar
Americana e a construção do conhecimento científico
entre a América do Sul e a Europa
,
considerando como
ponto de partida o discurso médico-científico sobre a
medicina tropical, nas primeiras décadas do século XX,
discute a tensão existente entre a comunidade médica da
América do Sul (Brasil e Peru) e da Europa, em torno da
leishmaniose tegumentar americana, procurando indivi-
dualizar e/ou enquadrar diferentes manifestações produ-
zidas pela
Leishmania
, em diferentes contextos geográfi-
cos.
A Fundação Rockefeller e a medicina tropical em São
Paulo. Circuitos, redes e personagens da parasitologia
médica
,
microbiologia e anatomia patológica (1918-
1969)
, de autoria de Maria Gabriela Marinho, apresenta-nos
uma reflexão sobre a influência da Fundação Rockefeller na
medicina tropical paulista entre 1918 e 1925, convocando
uma agenda que inclui atores, circuitos, redes e instituições
no âmbito da parasitologia médica, microbiologia e anatomia
patológica, que permitiram à Faculdade de Medicina de S.
Paulo instituir-se como centro de referência em medicina
tropical até 1969, num circuito de alianças, tensões e con-
trovérsias científicas.
Isabel Amaral analisa
O impacto da II Guerra Mundial na
obra de Aldo Castellani: a sua influência na escola por-
tuguesa de medicina tropical (1946-1971)
, numa narrati-
va que pretende dar a conhecer o percurso da internaciona-
lização da medicina tropical portuguesa, refletindo sobre o
refúgio de Aldo Castellani em Portugal no plano científico e
político, dando assim a conhecer a sua fase portuguesa, par-
tindo do estudo do espólio legado ao Instituto de Higiene e
MedicinaTropical de Lisboa.
Em
A higiene rural nos primórdios da Organização
Mundial de Saúde: outra vítima da Guerra Fria
?
Socra-
tes Litsios analisa e discute o impasse criado durante o pe-
ríodo da Guerra Fria, na década de 50, no apoio aos projetos
prioritários de higiene rural desenvolvidos e valorizados em
vários países, desde a Organização de Saúde da Liga das Na-
ções até à Organização Mundial de Saúde, ao mesmo tempo
que caracteriza a influência política na definição das políticas
de saúde à escala global como mote de desenvolvimento ci-
vilizacional.
Editorial