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Editorial Convidado

estados, sobre a legislação que regula os instrumentos existentes

para o processo de planeamento e destaca o papel legalmente

atribuído aos conselhos de saúde, nas três esferas de governo,

que devem estabelecer as diretrizes a serem observadas na ela-

boração dos planos de saúde.

Raynald Pineault e Zulmira Hartz apresentam o contexto cana-

diano, uma análise sobre o planeamento estratégico em saúde

a nível federal e, depois, ao nível das províncias, salientando as

vantagens e as desvantagens da descentralização na Província do

Québec. Com base nestas experiências, concluem com a apre-

sentação de um quadro conceitual que serve para avaliar as ex-

periências canadianas no planeamento em saúde do nível federal

e provincial, exemplificado pelo Québec.

O planeamento da saúde em países africanos é analisado por

Delanyo Dovlo, Humphrey C. Karamagi, Kevin Ousman e

Martin Ekekemonono, da OMS

África.Os

indicadores de saúde

na região africana têm melhorado nos últimos 15 anos, embo-

ra ainda enfrentem muitos desafios e ameaças. Para progredir

são necessárias melhorias nos processos de planeamento como

parte integrante do esforço para fortalecer a governação em

saúde.A história do planeamento em saúde é rica em empenho

e mostra evolução de acordo com o paradigma de gestão em

saúde prevalente a cada momento. Como resultado do surgi-

mento das metas de desenvolvimento sustentável é imperativo

que o processo de planeamento em saúde seja realinhado com

as necessidades de governação e com as expectativas dos vários

países. O escritório regional da OMS propõe a adoção de uma

grelha abrangente de planeamento que defina as ferramentas

e processos necessários para um planeamento em saúde efeti-

vo, incluindo as respetivas interligações. A adoção de um pro-

cesso de planeamento abrangente vai propiciar o alcançar dos

objetivos em saúde e conduzir os países em direção às metas

de desenvolvimento sustentável. Ferramentas e procedimentos

adequados serão desenvolvidos no quadro desse processo de

planeamento abrangente para facilitar a sua aplicabilidade nos

diversos países.

Cátia Sá Guerreiro,Augusto Paulo Silva,Tomé Cá e Paulo Fer-

rinho, a propósito da República da Guiné-Bissau (RGB), anali-

sam o contexto de fragilidade e carências ao nível da saúde e do

funcionamento do seu sistema de saúde.A gestão estratégica da

Guiné-Bissau foi, até março de 2017, orientada por uma Política

Nacional de Saúde (PNS) adotada e aprovada em 1993. O pro-

cesso de planeamento estratégico para a saúde (PES), na RGB,

incorpora e alimenta ainda outros processos de planeamento

por parceiros, serviços e organismos da sociedade civil dando

origem a uma teia de documentos orientadores - políticas, pla-

nos, programas, projetos.

O artigo faz uma viagem de revisão aos processos de PES na

RGB em três momentos, cada um associado a um Plano Na-

cional de Desenvolvimento Sanitário: 1998-2002 (extensão de

2003-2007); 2008-2017; 2018-2020. Numa narrativa que pre-

tende guardar memória destes processos, o artigo reporta-se ou

a vivências pessoais dos autores, ou segue uma metodologia de

análise de documentos, na sua maioria não-publicados, obtidos

de informadores-chave no decorrer de vários trabalhos em que

os autores estiveram envolvidos como dirigentes ou consultores

na RGB.

Sobre o Plano Nacional de Saúde, em Portugal, Jorge Simões e

Paulo Ferrinho escrevem um artigo que pretende constituir um

contributo para a história do planeamento da saúde, com base

numa revisão sumária da literatura publicada sobre o tema.Des-

creve-se a emergência e a evolução do planeamento, os agentes

responsáveis, os principais temas abordados, a sua integração

com o planeamento multissectorial e os principais marcos teó-

ricos orientadores da prática. Esta revisão identifica a evolução

do processo de planeamento em saúde, que progrediu para um

planeamento orientado para os ganhos em saúde e, mais recen-

temente, para o reconhecimento de que os determinantes da

saúde devem ser abordados em todas as políticas.

Assim, faz-se o percurso do planeamento da saúde, em Por-

tugal, desde o Estado Novo até à atualidade, com enfoque nos

principais documentos que são publicados desde o final da dé-

cada de noventa do século passado: “Saúde um compromisso

1998-2002”, o Plano Nacional de Saúde 2004-2010, o Plano

Nacional de Saúde 2012-2016, os cuidados de saúde transfron-

teiriços, o planeamento da rede hospitalar e os equipamentos

médicos pesados.

Constata-se que o planeamento tem assumido, em Portugal,

contornos contraditórios: por um lado apresenta bons docu-

mentos técnicos, com adequadas metodologias e contemplan-

do áreas do saber que vão para além do que tradicionalmente a

saúde abarca, mas, por outro lado, a execução dos planos tem-

-se mostrado débil, em especial na área hospitalar com diversos

normativos aprovados em diversos ciclos políticos sem conti-

nuidade e sem execução efetiva.

Em suma, o tema do planeamento é assumido pela Universi-

dade, é necessário mais conhecimento na área do planeamento

em saúde, incentivar mais investigação e partilhá-la com todos

os interessados, dentro e fora do mundo académico. Depois,

corresponde a uma necessidade dos técnicos, dos peritos, que,

em várias situações profissionais, necessitam de conhecer ins-

trumentos de planeamento para influenciar ou tomar decisões,

quer se situem a nível central, regional ou local, sejam públicos,

privados ou sociais. Finalmente, corresponde a uma necessidade

sentida ao nível da decisão politica: pedem-se aos políticos deci-

sões instantâneas, logo o planeamento é inexistente; há anúncios

de decisões que nunca serão concretizadas, logo o planeamento

é desnecessário; utilizam-se consultores externos para se estu-

darem pontualmente alternativas e projetos de decisão e esse

arremedo de planeamento esfuma-se.

Amemória na administração pública da saúde é crucial para que

se possa guardar e partilhar os estudos que levaram a opções

políticas. E essa memória é fundamental para uma concreta go-

vernação, mas também para as que lhe sucedem.

Ou seja, o planeamento em saúde deve ser uma rotina do Esta-

do, que permita decisões transparentes, escrutináveis, acertadas

e legitimadas e que envolvam vastos sectores da sociedade.