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Notas de Investigação

A malária é uma doença devastadora, transmitida

por vetores, que reivindica quase meio milhão de

vidas humanas a cada ano (WHO, 2017). A grande

maioria das mortes é causada por

Plasmodium falci-

parum

, a espécie mais letal de parasitas de malária

humana. A introdução de derivados de artemisinina

combinados com fármacos quimicamente distintos

sob uma prática conhecida como Terapia Combinada

com Artemisinina (ACT), para o tratamento de in-

feções por

P. falciparum

, tem sido extre-

mamente bem sucedida na redução do

número de casos e óbitos relacionados

à malária nos últimos 15 anos. No en-

tanto, à semelhança de todos ou outros

antimaláricos, o parasita acabou tam-

bém por evoluir resistência a estes fár-

macos (Haldar et al, 2018; Figura 1).

Deste modo, a identificação dos ge-

nes subjacentes à resistência assume-

-se como uma prioridade fundamental.

No entanto, o conhecimento atual so-

bre mecanismos de resistência a drogas

antimaláricas é limitado pelo fato de

a grande parte das abordagens dispo-

níveis se concentrarem na procura de

mutações em um número pequeno de

genes. Assim, o objetivo do nosso mo-

delo de trabalho é investigar as caracte-

rísticas evolutivas, genéticas e genómicas determi-

nantes de quimioresistência em parasitas de malária,

utilizando uma abordagem que permite explorar a

globalidade do genoma do Plasmódio, detetando to-

das as mutações responsáveis pela resistência. Este

paradigma faz uso de uma linhagem de

Plasmodium

chabaudi

isogénica, denominada AS, constituída por

parasitas mutantes resistentes a diversas drogas, tais

como cloroquina, mefloquina e derivados da artemi-

sinina (Tabela 1).

Estes parasitas fo-

ram utilizados para

uma rápida deteção

de

loci

associados a

diferentes

fenóti-

pos, à escala genética

global, usando uma

tecnologia denomi-

nada

Linkage Group

Selection

(Carter et al,

2007; Figura 2). Em

complemento, os ge-

nomas completos dos

parasitas resistentes

foram sequenciados

e comparados com

os dos seus progeni-

tores sensíveis, usan-

do tecnologias de

sequenciamento de

genomas de segunda

geração (Solexa, Illu-

mina; Figura 3).

Tabela 1.

LinhagemAS de

P. chabaudi

A denominação dos clones de parasitas é apresentada na primeira coluna da esquerda. As restantes colunas da figura

representam o fenótipo de cada clone à droga em questão. PYR: pirimetamina; SP: sulfadoxina + pirimetamina; CQ:

cloroquina; MF: mefloquina; ART: artemisinina; ATN: artesunato; LM: lumefantrina; S: sensível; R: resistente; lowR:

baixa resistência; intR: resistência intermédia; nd: não determinado. Todos os clones resistentes foram derivados do seu

progenitor sensível através de selecção

in vivo

por pressão continua de fármaco (setas bordeaux).Asteriscos denominam os

parasitas cujo genoma foi totalmente resequenciado. Fonte: autoria própria

Fig.1 -

Evolução cronológica da resistência ao diferentes fármacos antimaláricos em

P.falciparum

,

de acordo com área geográfica