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si e Giuseppe Bastianelli haviam demonstrado a transmis-
são da malária por mosquitos anofelinos e, na visão de
Oswaldo Cruz,
cabia ao Brasil identificar os mosquitos
brasileiros desse grupo zoológico. A publicação inaugura
a carreira frutuosa da entomologia médica brasileira por
pesquisadores nacionais. Ela é seguida por três outras, até
1907, e todas aparecem como trabalhos do autodenomi-
nado “Instituto de Manguinhos”. Logo surgem mais cinco
publicações de Arthur Neiva, Carlos Chagas e Antônio
Peryassú sobre culicídeos do Brasil, firmando os alicerces
de uma escola altamente produtiva de entomologistas e
acarologistas que se desenvolveria até os dias atuais.
Oswaldo Cruz faz transparecer nas publicações sua in-
tenção de fazer do Instituto um centro de investigação
científica original que fundamente as atividades aplicadas.
De fato, com exceção de duas: “A vaccinação anti-pes-
tosa” (1901) e “Dos accidentes em sorotherapia” (1902),
assuntos concernentes à finalidade oficial da instituição
e que aparecem como trabalhos do “Instituto Sôrothera-
pico Federal (Instituto de Manguinhos)”, todas as demais
referem apenas ao “Instituto de Manguinhos”. Mesmo um
artigo sobre “Peste”, de âmbito abrangente (epidemiolo-
gia, microbiologia, transmissão, sintomatologia, anato-
mia patológica, diagnóstico, tratamento e profilaxia), não
lidando especificamente com soros e vacinas, é “Trabalho
do Instituto de Manguinhos”. Essa referência continuaria
aparecendo mesmo nas publicações posteriores à mudan-
ça do nome para Instituto Oswaldo Cruz.
Estudantes começam a acorrer ao Instituto em busca de
estágio ou de orientação para suas teses, então obrigató-
rias na graduação em medicina. Temas de pesquisa vão
sendo adotados nos domínios da bacteriologia, helmin-
tologia, hematologia, imunologia, protozoologia e viro-
logia. Inicia-se uma radical mudança no panorama acadê-
mico do Rio de Janeiro: em vez das habituais compilações
baseadas na literatura corrente, surgem em número cres-
cente teses baseadas em trabalhos experimentais originais
que só excepcionalmente versam sobre a peste. Nomes
que
ilustra-
riam a ciência
biomédica na-
cional tiveram
sua formação
aperfeiçoada e
direcionada sob
a orientação de
Oswaldo Cruz
no “Instituto de
Mangu i nhos ” .
Entre outros,
surgem Affon-
so MacDowell,
Antônio Cardo-
so Fontes, An-
tônio Gonçalves Peryassú, Alcides Godoy, Arthur Moses,
Arthur Neiva, Carlos Chagas, Eduardo Rabello, Ezequiel
Dias, Henrique da Rocha Lima, Henrique de Beaurepai-
re Aragão, José Gomes de Faria, Paulo Parreiras Horta e
Raul de Almeida Magalhães, para referir somente os au-
tores de algumas entre as 23 teses produzidas de 1901 a
1910. O fato de constarem desta lista não apenas nomes
que ingressaram no quadro de pesquisadores do Institu-
to, mas também outros que fora dele tornaram-se proe-
minentes em suas especialidades, mostra a influência do
Instituto na renovação científica do país.
Em 1908, Oswaldo Cruz cria o “Curso de Aplicação de
Manguinhos”, semente da pós-graduação do Instituto, da
Fiocruz e do Brasil. O Curso
lato sensu
correspondeu a
uma verdadeira inovação no panorama científico nacio-
nal. Nele se ensinava e trabalhava, durante dois anos, so-
bre métodos de investigação e experimentação em mi-
croscopia, microbiologia, imunologia, física e química
biológica e parasitologia.
Durante essa fase o Instituto produz, além das teses, 120
publicações originais em periódicos nacionais (a grande
maioria no Brazil-Medico) e em revistas internacionais alta-
mente seletivas, como Centralblatt für Bakteriologie, Biolo-
gischen Zentralblatt, Archiv für Protistenkunde, Archiv für
Schiffs undTropen-Hygiene, Zeitschrift für Hygiene und In-
fektionskrankheiten, Münchener Medizinische, Annales de
l’Institut Pasteur, Comptes Rendus de la Société de Biolo-
gie e Bulletin de la Société de Pathologie Exotique. Por essa
época a lista de revistas científicas assinadas para a Biblioteca
do Instituto ultrapassava 420 títulos...
Um castelo, ou um templo para a ciência,
na entrada da cidade do Rio de janeiro
Em 1906 a peste foi domada e, a partir de 1908, a fe-
bre amarela não faz mais vítimas, mas os casos de varíola
só diminuem lentamente por que a lei de vacinação não
foi aplicada, por
falta de fiscali-
zação.
De fato, apesar
de o Presidente
Rodrigues Al-
ves se mostrar
leal e confiante
no trabalho de
Oswaldo Cruz,
a pressão da
imprensa e da
população, que
acaba incluindo
um levante de
300 cadetes da
Fig. 1a,1b e 1c
1a
. O médico sanitarista Oswaldo Gonçalves Cruz (São Luiz do Paraitinga 1872 – Petrópolis
1917) aos 38 anos de idade
11
;
1b
. Croquis atribuído a Oswaldo Cruz, que o teria feito para o arquiteto português Luiz de Moraes
Júnior, representando um castelo (de aparência medieval), para o projeto do Pavilhão Mourisco do
Instituto Oswaldo Cruz (IOC)
12
;
1c
13
. Castelo Mourisco, sede do IOC e hoje também da Fundação Oswaldo Cruz, construído a
partir de 1904.
História