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Voltemos aosTrópicos. Os Homens precisam dosTrópicos e vão

para os Trópicos. Os Homens têmTrópicos. A ciência não tem

Trópicos, não tem Norte, não tem Sul. A ciência tem, sim, o

Homem que, partindo de si próprio, da sua sabedoria, das suas

dúvidas constantes precisa, também para seu benefício individual

e coletivo, de envolver todos os outros Homens. Sem exceção!

Kant dizia que "

Ciência é conhecimento organizado. Sabedoria é vida

organizada.

" Mais tarde e com a mesma oportunidade refere Isaac

Asimov: "

O aspeto mais triste da vida de hoje é que a ciência ganha em

conhecimento mais rapidamente que a sociedade em sabedoria

".

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

É do conhecimento geral que o progresso resulta, fundamental-

mente, da observação, das consequentes dúvidas que este mesmo

processo desencadeia e da investigação que o ser humano realiza a

cada momento, para as aclarar. Por isso, quanto mais se progride,

mais terá de ser,a investigação que se efetiva.É assimque a investi-

gação assume, porque necessário, algo de heroicidade, de audácia

e de estoicidade nos nossos países dosTrópicos. Focalizando esta

atividade na saúde e na medicina podemos medir o esforço fei-

to por aqueles que, a elas ligados, encontram num tempo quase

inexistente a energia para contribuir para o progresso da ciência,

investigando. Somos poucos. Somos realmente muito poucos. Na

verdade, os que se dedicam a esta profissão de ligação à saúde e à

doença e têm, momento a momento, que lutar pela valorização

da vida, prolongando-a ou minimizando o sofrimento, promo-

vendo ou repondo a saúde, prevenindo ou combatendo a doença,

conseguem encontrar essa adicional energia, essa adicional entre-

ga para, num tempo já fugido, se dedicarem também à melhoria

do conhecimento coletivo, investigando.

O Instituto de Higiene e Medicina Tropical, vivendo também

tempos semelhantes, com escassez de quadros, mas entendendo

sempre a sua missão soube organizar-se para as duas principais

áreas que constituíam a sua razão de ser: a formação e a investiga-

ção.E é assimque,paralelamente a uma plêiade de grandes figuras

da investigação das doenças ditas tropical o Instituto de Higiene

e Medicina Tropical forma, dando conhecimentos específicos na

área respetiva, os médicos que da Metrópole tivessem que partir

para as colónias portuguesas.

A inestimável contribuição dada durante este último século pelo

Instituto de Higiene e Medicina Tropical na formação e investi-

gação, com os padrões internacionais mais elevados, ajudaram

particularmente países tropicais da América do Sul, de África e

do Oriente, falantes de português e, não só: ajudaram o mundo

no seu crescimento científico global. Por estas outras razões, de-

vemos pretender manter e desenvolver a nossa abertura com o

mundo e privilegiar a colaboração com todas as instituições que,

aprendendo, fazem e fazendo, aprendem a valorizar o conheci-

mento, a qualidade, a equidade, a solidariedade, a inovação.

Mas, instituições que constroem saber e o distribuem através de

uma pensada e bem preparada acção de formação, como o Insti-

tuto de Higiene e MedicinaTropical têm que valorizar uma sólida

postura ética, como aliás sempre o fez. Esta postura ética alicerça-

da num constante pensamento crítico e reflexivo deve encontrar

espaços e tempos para considerar e rever conceitos e experiências,

compartilhar ideias, levantar polémicas, contribuir para o pensar

coletivo. Por isso, ao profissional atual é exigido não somente um

profundo conhecimento científico como, e igualmente, um pro-

fundo saber da ciência ética,seja nos seus princípios gerais,seja nas

suas aplicações específicas. E, tudo isto envolto na priorização de

levar as profissões a ter sempre, em tudo, o sentido pleno da sua

humanização. Então, juntos, possuamos tempo e coragem para

podermos ainda ser aqueles que terão a honra e o privilégio de

poder participar no desenvolvimento de ações de qualidade para

melhor formar e estarmos melhor preparados para

investigar.Ga

-

nhará o Homem, ganharemos todos. Ganha o presente, ganha o

futuro.

Por isso, e antes de terminar gostaria de saudar todos aqueles que

a partir de hoje se dispuseram a adquirir mais conhecimento e,

por essa razão, se acercaram do Instituto de Higiene e Medici-

naTropical para serem formados, e manifestar o meu desejo de

que, com a troca de experiências possam catalisar motivações que

continuem a enaltecer esta instituição e a vós mesmos, para que

haja um crescimento sempre crescente e salutar, na senda de uma

inter-ajuda oportuna e pertinente - em ambos os sentidos - para

a valorização do Homem e dignidade das vossas profissões.A vós,

estudantes, ser-vos-á exigido, e exigirão tambémde vós próprios,

tenho a certeza, vontade de aprender, curiosidade científica, en-

trega total, altruísmo, abertura de espírito, criatividade, tenaci-

dade e muito, muito trabalho. Porque só assim se constituem os

ganhadores de hoje, os ganhadores do amanhã.

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

O Instituto de Higiene e Medicina Tropical, formando e inves-

tigando, investigando e formando, hoje, o faz em conjugação de

esforços com equipas de cientistas das zonas tropicais. Em causa

está oHomem,emcausa está o conhecimento para o servir.Deste

modo e apenas para falar de Moçambique devo referir que estão

em curso estudos e formações multidisciplinares e colaborativos

que, identificados numa verdadeira cooperação, serão úteis para o

desbravar do desconhecido e avançar para as soluções que impor-

tam às suas gentes, às nossas gentes.

Hoje, aos Cambournac’s de hoje, a Vossas Excelências aqui pre-

sentes devo afirmar que, perante o mesmo convite por mim re-

cebido nos anos da década de 80, responder-vos-ia: "Obrigado

pela vossa disponibilidade e interesse. Obrigado também por nos

terem sempre recebido e ajudado com alto denodo científico.

Aceitamos pois o convite. Mas, como viventes dosTrópicos con-

vidamos também para se deslocarem para lá. Receber-vos-emos

de braços abertos como vós sempre nos receberam".

É que assim, mais juntos ainda, avançaremos mais rápidos, mais

profundamente, mais verdadeiramente. OsTrópicos ficarão uni-

camente uma distância, apenas uma diferença geográfica, pois aí

os homens são iguais.Neste desafio do presente teremos uma cer-

teza: ganhará a humanidade do futuro.

Muito obrigado.

(Maputo, 14 de Setembro de 2015)

Cerimónia de Abertura