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S18

Artigo Original

Planeamento da saúde no Estado Novo

Os grandes investimentos públicos constavam, desde

o final dos anos setenta do século passado, de planos

anuais designados como PIDDAC (Plano de Investi-

mentos e Despesas de Desenvolvimento da Administra-

ção Central), que foram antecedidos pelos Planos de

Fomento: o primeiro Plano de Fomento cobriu o pe-

ríodo entre 1953 e 1958; o segundo abrangeu os anos

de 1959 a 1964; um Plano Intercalar de Fomento foi

criado para os anos de 1965 a 1967; o terceiro Plano de

Fomento aplicou-se ao período compreendido entre os

anos de 1968 e 1973; finalmente, o quarto Plano de Fo-

mento, para 1974 a 1979, não chegou a ser executado

(Giraldes, 1984; Lains, 1994; Ceiros, 2005)

1

.

A saúde é, pela primeira vez, incluída, na década de 60,

num plano de fomento, sob a responsabilidade da Pre-

sidência do Conselho de Ministros, e

só em 1968 sur-

ge uma estrutura orgânica do planeamento, quando foi

formalmente constituída a tutela ministerial neste cam-

po, integrada na Presidência do Conselho de Ministros,

através de um subsecretário de Estado do Planeamento

(Lopes, 1987; Brissos 2004).

Em 1958, nascera o Ministério da Saúde e Assistência,

que recebeu do Ministério do Interior os Serviços de

Saúde Pública e os Serviços de Assistência Pública, mas

apenas tinha a seu cargo a execução da política de pro-

teção da saúde na parte não assegurada pelos serviços

dependentes da Previdência, integrados no Ministério

das Corporações e Previdência Social, e com escassos

resultados até ao final da década de sessenta (Lopes,

1987).

Depois da substituição de António de Oliveira Salazar

por Marcello Caetano, em 1968, inicia-se o terceiro

Plano de Fomento, que considera como prioritários

três sectores de atividade - a saúde, a agricultura e a

educação. A prioridade que se lhes concede resulta di-

retamente das carências graves com que se defrontam.

Particularmente no caso da saúde, a prioridade justifi-

cava-se como um sector «de relevância essencial e que

pode dizer-se (é) o alicerce por excelência do próprio

processo de desenvolvimento económico, pois o ho-

mem está no principio e no fim de todo este processo»

(Caeiro, 2005).

Baltazar Rebelo de Sousa, Ministro da Saúde e Assistên-

cia entre 1970-1973, apoiado por Francisco Gonçalves

Ferreira, Secretário de Estado da Saúde e Assistência,

e por Arnaldo Sampaio, chamado em 1970 a dirigir o

recém-criado Gabinete de Estudos e Planeamento do

Ministério da Saúde e Assistência, promove a publica-

ção dosTrabalhos Preparatórios do IV Plano de Fomen-

to, em 1971, que consistiram num minucioso diagnós-

tico da situação de saúde do país, marcando, de forma

consistente, uma época no domínio do planeamento da

saúde em Portugal. Esta equipa dirige, em 1971, uma

reforma que estabelece o novo Sistema Nacional de

Saúde, como um sistema unificado de saúde (com uma

componente pública e outra privada, incluindo as Mi-

sericórdias), integrando os Serviços Médico-Sociais das

Caixas de Previdência. Os princípios fundamentais que

regem a nova organização incluem o direito à saúde de

todos os portugueses, sem qualquer descriminação, e o

planeamento global de todas as atividades para melhor

aproveitamento dos recursos existentes.

O fim do Século XX

Nas décadas

de 70 e 80, os Planos de médio prazo

(1977-1980 e 1979-1984) não passaram da fase de ela-

boração, mas os PIDDAC passaram a contemplar planos

anuais para grandes investimentos públicos na Saúde.

Este planeamento esteve centrado no Departamento de

Estudos e Planeamento da Saúde (DEPS), serviço cen-

tral do Ministério da Saúde, extinto em 1997, respon-

sável pela regulamentação, estudo, conceção, planea-

mento, programação, consultadoria na área de política

e administração de saúde e de apoio técnico à coope-

ração internacional; era dirigido por um diretor-geral,

coadjuvado por um subdiretor-geral.

A partir de 1978, com base nas estruturas distritais,

foi dinamizada a definição de circuitos funcionais para

a elaboração dos planos aos vários níveis e a articula-

ção com sectores que condicionam ou determinam o

estado de saúde das populações. A metodologia ado-

tada, promovida pela Organização Mundial de Saúde

(OMS), sob a designação de

country health program

,

recebeu em Portugal o nome de «planeamento inte-

grado de saúde» e foi utilizada na elaboração dos Pla-

nos para Trás-os-Montes,Viana do Castelo, Alentejo e

Castelo Branco. Assentava numa visão multissectorial

dos problemas da região, num processo participado

envolvendo autarquias e responsáveis locais dos ser-

viços e de instituições representativas da população

e centrado numa unidade geográfica e funcional bem

definida. Na programação, procurou-se uma integra-

ção multissetorial com a segurança social, educação

e desporto. Embora os planos atrás referidos consti-

tuam experiências que assumiram algumas caracterís-

ticas de um processo descentralizado, com discussão

local dos problemas, o processo, porém, não garan-

tiu o compromisso intersectorial dos vários atores

para a execução do Plano, não permitindo a criação

das condições para alcançar a resolução ou redução

dos problemas de saúde específicos da região (Brissos

2004).

Em meados dos anos 90, o planeamento estratégico

constituiu uma tentativa para conseguir melhores re-